Quem foi que disse que vice era só o Aureliano? O irreverente e inesquecível Jô Soares. O bordão pegou depois que o presidente, generalíssimo João Figueiredo, embarcou rumo aos Estados Unidos para uma cirurgia cardíaca, deixando o país sob o comando do mineiro Aureliano Chaves. O vice, de temperamento difícil, mas com aquela mineirice que lhe dava estatura de estadista, governou por um bom tempo — sem alarde, sem solavancos, sem ameaçar o sistema democrático. Raro, elegante e funcional.
Corta para 2025: o ex-governador André Puccinelli, que não é gordo, mas tem lá seu lado hilário, deve estar por aí parafraseando Jô Soares — com seu habitual português empolado, por extenso e sem diminutivo:
“O José Carlos Barbosa também o é.”
Barbosinha assume novamente o Governo de Mato Grosso do Sul neste domingo (13). É a enésima vez. O motivo? Uma “ausência pessoal” do governador Eduardo Riedel, conforme publicado no Diário Oficial do Estado (n. 11.536). E ninguém mais se espanta. Virou rotina institucional.
A assessoria até tenta justificar, mas já soa como protocolo: Barbosinha governa como Aureliano — discreto, confiável, técnico. E talvez por isso mesmo, com tamanha naturalidade.
Riedel, seguro, entrega as chaves:
“Ele conhece tudo do Estado, tem absoluta responsabilidade. O Estado estará em excelentes mãos.”
Barbosinha retribui com o tom afinado de quem sabe jogar no time:
“É motivo de orgulho e satisfação mais uma vez assumir o comando do Estado e garantir que o Mato Grosso do Sul continua trabalhando com firmeza, construindo um Estado próspero, verde, digital e inclusivo.”
Durante a semana, o vice-governador em exercício cumpre agendas em Corumbá, onde entrega reformas em duas escolas estaduais, e segue com compromissos em Campo Grande e no interior — mantendo o ritmo de um governo municipalista, com foco em entregas.
Tudo isso sem solução de continuidade. A engrenagem gira. O governo anda. O Estado não para.
A história do Brasil é cheia de vices que viraram presidentes — por tragédia, traição ou destino. Floriano, Sarney, Itamar… E aquele que, mesmo por breve período, inspirou confiança: Aureliano.
Sem esquecer dos casos que também já entraram para os anais do poder às avessas. O mais recente? O do antecessor de Riedel, Reinaldo Azambuja, em seu segundo mandato, quando teve como vice o “golpista” Murilo — só pra não perdermos o embalo da palavra mais em moda no Brasil pós-Bolsonaro.
Vice, só Aureliano?
Era. Barbosinha também.