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sábado, abril 26, 2025

Quando a bandeira “roubada” vira motivo de chacota

Vereador, sarrgento Prates, sempre enrolado na bandeira do Brasil

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Virou modinha no Brasil: militares eleitos que se recusam a despir a farda quando adentram os parlamentos. Um hábito que mistura ignorância institucional com fetiche autoritário. A razão de ser da farda, no universo castrense, é clara: obediência. Submissão à hierarquia. Cumprimento cego da cadeia de comando. Faz sentido na caserna, sob a autoridade de capitães, coronéis, generais e até de cabos e sargentos. Mas qual é a farda exigida pelo verdadeiro comandante de um eleito pelo voto popular?

Spoiler: não é verde-oliva. É a Constituição.

No regime democrático, o único uniforme legítimo de um parlamentar é o mandato conferido pelo povo — esse sim, comandante supremo de todos os poderes republicanos. Quando um eleito veste a farda no parlamento, ele não está apenas se confundindo: está confundindo o papel das instituições, borrando a linha que separa a força da representação, o quartel da câmara.

Há quem veja nisso um simples gesto simbólico. Mas símbolos importam. E, nesse caso, sinalizam perigo. A história brasileira está repleta de exemplos de militares que não souberam voltar aos quartéis — e decidiram estender seus comandos para além da baioneta. De Deodoro a Bolsonaro, o Brasil pagou caro por cada vez que confundiu comando com representação, ordem com debate, tropa com povo.

Nos parlamentos estaduais e no Congresso, a presença de fardados eleitos não é nova, mas tem ganhado contornos de caricatura. Em Dourados, por exemplo, a cena já virou piada recorrente: um sargento reformado, mais conhecido pela qualidade do suco que abunda nas prateleiras de supermercados, o Prates, desfila pelos corredores do Jaguaribe vestindo farda e ainda se enrola com a bandeira nacional, como se estivesse prestes a içar a si mesmo num mastro imaginário. O ridículo é tanto que se perde a noção do quão grave é o desrespeito aos símbolos pátrios.

A bandeira do Brasil, vale lembrar, não é capa de super-herói “patriota” de WhatsApp. E farda, fora do quartel, não é fantasia de moralidade superior. Parlamentar uniformizado é uma contradição em termos: um representante do povo que se apresenta como subordinado à lógica da caserna, quando deveria se vestir de povo, pensar como povo e legislar para o povo.

E aqui vale um parêntese necessário: a bandeira brasileira, outrora símbolo de união e soberania, foi sequestrada — ou melhor, quase “roubada” — por um grupo que tenta usá-la como uniforme de facção política. A apropriação do verde-amarelo por setores bolsonaristas transformou o símbolo nacional em estampa de extremismo, fazendo com que muitos brasileiros hesitassem até em vestir as cores da pátria. Mas como a história costuma ser implacável com os farsantes, o tiro saiu pela culatra. A cada nova encenação, como a do Sargento-Suco de Dourados, o vexame se converte em viral, e o símbolo sequestrado acaba libertado pela força do deboche. Quando o mastro vira meme, a farda vira figurino de comédia, e a pátria — coitada — continua à espera de quem a leve a sério.

O fenômeno tem nome: bolsonarismo fardado. Uma mistura de nostalgia da ditadura com ignorância constitucional. Patologia política em estágio avançado. A idolatria da farda virou refúgio de quem tem horror à pluralidade, desprezo ao contraditório e saudade da voz de comando. Mas a democracia, essa danada subversiva, insiste em lembrar que o voto não dá direito à arrogância — e muito menos ao ridículo.

Sargento, capitão, coronel: eleito é eleito. E, no parlamento, quem manda é o povo. Portanto, desçam da bandeira, tirem a farda, e respeitem as cadeiras que ocupam.

Porque a República é civil. E a democracia não admite camuflagem.

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