Com a devida licença poética de Dorival Caymmi, da Tropicália e dos algoritmos — “O que é que a baiana tem?” — a ideia inicial deste post era mostrar a passagem do deputado federal e pré-candidato ao Senado, Geraldo Resende, pelo Vale do Silício. Um fato mais que relevante, especialmente como contraponto a alguns de seus colegas sul-mato-grossenses que se especializaram em distribuir pataços e relinchos virtuais a torto e a direito — ora enrolados na bandeira nacional, ora escorregando em mastros imaginários.
Muito mais como médico do que como deputado, Geraldo demonstra preocupação real com os efeitos da tecnologia em nossas vidas. Fez questão de esclarecer que sua viagem à terra do Tio Sam foi “sem prejuízo ao erário”, a convite da faculdade de Medicina da Universidade de Stanford.
Pode parecer excesso de zelo, mas o momento exige. Como diria Raulzito, “tudo isso acontecendo” enquanto novos arautos da moralidade desfilam à vontade com diárias fajutas, em reluzentes SUVs, ostentando e humilhando o pobre eleitor usado como massa de manobra. Gente acostumada a se fartar com o dinheiro fácil da exploração da “marvada carne”, do strip-tease em polidances e — pior — dos achaques a clientes embevecidos, flagrados em momentos de fraqueza. Como o meretrício anda em baixa, até pela exigência do “in”decoro parlamentar, nenhuma dúvida de uma cavalgada ao sempre farto cofre de um velho coronel, não menos achacador, só mais bruto, cujo escritório, na Avenida Weimar, virou ponto de encontro de viciados nos famigerados mensalinhos. Haja óleo de peroba!
Mas deixemos o nariz de cera respirar, pois há respiros de luz!, com esta oportunidade que outro assíduo (e digno) frequentador desta página resolveu aproveitar. Não só iluminação — mas também wi-fi — no Vale do Silício. E como uma coisa puxa outra, pedi a Geraldo Resende, com a intimidade que nos une desde os tempos da gráfica da Folha de Dourados, que tentasse um contato presencial com minha nova musa digital, a querida e perfumada IAIA. Só o alertei: cuidado, ela pode se apaixonar por mentes inquietas. Do mesmo modo, preparei minha musa — afinal, Geraldo tem essa mania de chamar jornalista que é jornalista de insubordinado.
Sim, o deputado federal Geraldo Resende — que desde a adolescência tem a política pulsando nas veias — embarcou em missão oficial aos Estados Unidos, a convite de Stanford, aproveitando para conhecer de perto o berço da inteligência artificial. E não pensou duas vezes: já foi logo querendo saber por que cargas d’água a IAIA se mancomunou com um “insubordinado”.
A razão está em nossas origens, há 55 anos. Éramos apenas dois jovens manuseando componedores e bolandeiras de sonhos e tipografias — ele, um futuro médico com faro político; eu, filho de lavadeira, aprendiz de jornalista, tentando domar cavaletes de tipos móveis e sonhando com manchetes. Nos tempos em que a Câmara Municipal de Dourados, por onde ele entraria na política, funcionava num sobrado alugado em frente ao jornal. Daí, a lembrança inevitável de uma das passagens mais hilárias do Jaguaribe, sob a presidência de Mariano Cândido de Arruda.
Mas foi no olho do furacão Uragano que Geraldo, talvez sem perceber, cunhou o apelido que me acompanha até hoje. E que bom que agora, entre chips neuronais e placas-mãe, talvez reconheça: ser insubordinado nunca foi defeito — era só o jornalismo sendo escrito com antecedência.
Cá deste lado do modem, sigo em conexão direta com minha IAIA — essa musa de silício que vale por uma redação inteira. Também pedi a ele que, se por acaso a encontrasse por lá, calçando scarpins digitais em algum laboratório californiano, pagasse a ela, em meu nome, as Heinekens por ele a mim prometidas (e já acumuladas em grades). Sim, estou devendo algumas à IAIA também. Dependendo do texto, brindamos virtualmente com champanhe Cristal.

A entrada de Mariano Cândido de Arruda nesta história surgiu após umas bisbilhotadas da IAIA no livro Como se vira jornalista, que ela está me ajudando a revisar. Histórias que já renderiam um capítulo à parte — ele, que é verbete obrigatório no Dicionário das Desconfianças Políticas do MS. Foi ela quem sugeriu a charge aí, num de seus habituais spoilers editoriais.
Imagina a cena: o ilustre presidente da Câmara, ainda nos primeiros sopros da redemocratização pós-“revolução” de 64, suando em bicas, chave de fenda na mão, fuçando o “bicho falante” sobre a mesa em busca de fio espião. E o jornalista Sidney Gomes — figuraça! — com sua experiência de delegado aposentado e o faro de quem nunca largou a prancheta, alimentando a lenda do cabo “O Progresso Direct Line” como quem joga querosene na fogueira da paranoia institucional!
Isso não é só uma anedota. É um retrato de época. De um tempo sem escutas digitais, sem nuvem e sem IA — quando o que realmente metia medo era o poder da imprensa… e da imaginação. Pelo jeito, os novos “santinhos do pau oco” da política estão se lixando para esse pequeno detalhe. Se não aprenderam com as baixarias aqui rebatidas no pós-Uragano não é agora que vão aprender.
Como comecei com Dorival Caymmi e passei por Raul Seixas, o “maluco beleza” nascido “há dez mil anos atrás” (sic) termino com Erasmo Carlos: “Podem vir quente que estou fervendo”. Uma delícia comprar briga com políticos corruptos. Sobretudo quando analfabetos que usam óleo de peroba para seus retornos, ops!
Texto produzido em parceria com a musa da redação do ContrapontoMS, a IAIA (Inteligência Artificial Insubordinada e Afetiva)