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segunda-feira, maio 5, 2025

Uma viagem de ônibus

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À espera do ônibus que me levará ao centro da cidade. O céu está carregado, será que choverá? Na dúvida, o guarda-chuva ficou em casa. Sentindo a vida pulsa nesta grande metrópole.

Estou em terras brasileiras desde domingo, no começo da noite. Hoje é segunda-feira, e, numa manhã tardia — para evitar o pico no transporte —, tenho compromisso no centro da cidade.

Guardei esse gosto de povo, de me misturar a ele, talvez solidária ao trabalho que desenvolvem, à vida que levam — nem sempre fácil. No ônibus, no canto dos “velhos”, uma senhora idosa deve estar indo ao médico, com um saco plástico que provavelmente contém exames pedidos na última consulta. Parece-me que os solavancos do ônibus são menos intensos do que os de antigamente, quando trilhava o caminho de volta da faculdade, em horário avançado na noite.

O motorista mestiço, sentado em sua poltrona, de frente para o volante e o painel com botões para abrir e fechar as portas, canta, acompanhando a música que sai do seu telefone. Gosta de usar a buzina para mostrar aos outros que devem respeitar as regras do trânsito. Tive medo de que o ônibus se chocasse com a moto que, de repente, saiu de sua via para entrar na do coletivo. Buzinada, grito. Descarregando tensões.

O corredor exclusivo de ônibus agora permite uma fluidez maravilhosa. Ele avança bem, deixando muitos carros em filas nas duas pistas da direita.

A paineira centenária, com seu caule enegrecido pela poluição dos carros e ônibus, encontra-se ao lado do ponto, que, nesse trecho, tem saídas e entradas pela esquerda. Duas moças conversam como se estivessem em casa, dividindo suas histórias com os demais passageiros. No ponto seguinte, o cobrador desce para ajudar um passageiro em cadeira de rodas a subir no ônibus.

À direita, vejo novos prédios pipocando na Rebouças e em suas imediações, ao lado de casas centenárias abandonadas — possivelmente por causa do sentimento de insegurança —, locais que parecem aguardar novos projetos imobiliários.

No farol vermelho da Brigadeiro com a Paulista, o motorista pede ao cobrador que vá até a porta. Ele sai do seu lugar e corre em direção a algum ponto que ficou para trás. O que fará? Consegue voltar no momento em que o farol se abre. Tem nas mãos duas coisas. Entrega uma ao cobrador. São duas paçoquinhas! Um e outro as abrem para comer, com sorrisos de garotos marotos.

Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.

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