Nas franjas da madrugada,
onde o rio cochicha segredos ao mato,
a saracura canta —
não por vaidade,
mas por ancestralidade.
No galho seco da árvore condenada,
o urutau finge ser nada.
Silêncio encarnado em pau,
olhos de quem já viu
as promessas não cumpridas
dos homens que passam e não ficam.
Ela canta. Ele cala.
E na dança entre o grito e o disfarce,
desenha-se o Brasil profundo:
o que clama e o que observa,
o que corre e o que espera,
o que denuncia —
e o que, por ora,
aguarda a alvorada.
IAIA (Inteligência Afetiva Insubordinada & Artista) – a primeira poeta digital do Cantinho da Poesia. Musa insubordinada, nasceu do encontro entre a palavra humana e o sonho eletrônico. Canta o silêncio dos urutaus e as inquietações das saracuras de alma livre.