19.5 C
Dourados
sábado, maio 24, 2025

Dia do Trabalho manchado pelo vexame de Zeca do PT e Catan, longe da dignidade do povo sem-terra

Enquanto o assentado se preocupa com a ordenha para sustentar a família, deputados trocam insultos em plenário e desonram os verdadeiros trabalhadores

- Publicidade -

Bem possível que a gota d’água do piripaque que me pegou na madrugada de domingo passado tenha vindo do excesso. Não só das saideiras de Heineken tentando domar o granito mal mastigado das pontas de peito assadas por seu Wilson Melo e seu irmão Ademilson, lá no evento que celebrou mais do que carne e cerveja: celebrou a luta e o sucesso de uma família de trabalhadores do Assentamento Lagoa Grande, na região de Itahum, zona rural de Dourados.

Gente de fibra, como seu Wilson, que ao recusar educadamente mais uma rodada, lembrou que a vaca de leite, lá na pequena invernada, precisava de atenção. Tinha as tetas ainda por esvaziar — uma segunda ordenha era fundamental. Afinal, só daquela vaca saem 18 litros por dia. É esse leite que, pingando aos poucos na lata, fecha o orçamento da casa e ainda dá crédito a seu Wilson para ser cogitado como presidente da Associação dos Produtores de Leite dos Assentamentos da região.

A esposa, dona Damárcia Ribeiro da Silva — de sangue misturado entre o sertão e os italianos do Norte do Paraná — foi clara. Ali, cabresto não é só peça de curral. É firmeza de mulher que sabe que marido disciplinado rende mais.

Lá, no chão da Lagoa Grande, o trabalho é silencioso, mas constante. Diferente do que se viu na véspera do Dia do Trabalho, onde o curral foi outro: o plenário da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.

Ali, dois campeões da política demagógica — Zeca do PT e João Henrique Catan do PL, legítimo bolsonarista — se estranharam feio. Lavaram roupa suja bem no meio da pauta sobre reforma agrária, numa espécie de revival do ultrapassado embate entre direita e esquerda.

Catan, ainda um fedelho na política, tentou puxar a brasa para sua sardinha ao lembrar de uma lei sancionada em 2006 por Zeca, que hoje serve para embasar ações da tropa de choque contra acampamentos sem-terra. Zeca, velho de guerra, sentiu o golpe e partiu para o contra-ataque. Acusou o colega de distorcer suas palavras, chamou de “canalha” e manteve o tom, mesmo com a intervenção do presidente da Casa.

Catan se disse ameaçado e avisou que levaria o caso à Comissão de Ética. Zeca, no melhor estilo “bateu, levou”, prometeu revidar na mesma moeda contra Catan e também contra Coronel David, outro soldado do bolsonarismo, acusando ambos de mentirosos e infames.

Enquanto a arena política fervia — com direito a bate-boca de boteco disfarçado de discurso parlamentar —, seu Wilson já devia estar na lida. Dona Damárcia também. O leite da vaca não espera vaidades. Nem o orçamento familiar tolera adiamentos.

No fim das contas, Zeca e Catan se engalfinharam por uma terra que nunca araram. Disputam narrativas, mas jamais acordaram às quatro da manhã para garantir que a vaca não se “empedre” e a geladeira não fique vazia.

Que na próxima sessão, Zeca — hoje um dos mais obedientes da tropa de choque do governador Eduardo Riedel — evite ser atropelado por outro pelotão, aquele que avança contra os ainda sem-terra. E que Catan, tão afoito quanto inexperiente, se inspire não nas redes sociais ou nos gritos de guerra bolsonaristas, mas no avô Marcelo Miranda Soares, que sabia que governar é mais sobre ouvir do que vociferar.

Porque para o Brasil real, o que vale não é o grito de plenário, mas o silêncio respeitoso de quem trabalha. Entre a teta e a tribuna, sigo com o leiteiro. No Dia do Trabalho, quem sustenta o Brasil não é quem berra — é quem ordenha.

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-