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sábado, maio 24, 2025

Entre a fumaça branca e o azedume de Ilze: um Contraponto Papal

Na cobertura da eleição de Leão XIV, a fumaça branca revelou não só o novo papa, mas também vaidades antigas, bastidores quentes e um inesperado “contraponto” global direto do Vaticano

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Na eleição do novo papa, quem subiu ao poleiro da notícia foi Ilze Scamparini — mas desceu contrariada, microfone em punho, semblante tenso, e alma em desalento. A veterana vaticanalista, há décadas com vista privilegiada de sua sacada para a cúpula da Basílica de São Pedro, sentiu-se deslocada num cenário que, pela dedução lógica, deveria ser seu por direito adquirido — e não partilhado com os figurões da ancoragem carioca.

William Bonner, o âncora do Jornal Nacional, fez das tripas coração na edição de ontem (08/05) para justificar o climão ao vivo, depois da recusa de Ilze aos seus “cafunés” jornalísticos, aqueles salamaleques protocolares de estúdio para estúdio. O poleiro romano, montado pelo Vaticano para os jornalistas, virou palco de uma disputa silenciosa, mas ruidosa nas entrelinhas, entre vaidades globais e protagonismos de ocasião.

Na noite da escolha de Leão XIV — nome que já impõe respeito e sugere rugidos em latim — Bonner tentava, de modo algo constrangido, justificar o mau humor de Ilze dizendo que ela estava em pé, há horas, no frio romano, sem um casaco tão bom quanto o dele. Foi um manto de piedade para cobrir a saia justa em rede nacional.

A verdade, que corre solta pelas mídias sociais, é que Ilze ficou “pê” da vida. Queria, como em outros conclaves, ser a portadora solene da fumaça branca. A intérprete das entrelinhas cardeais. A cronista da fé em tempo real. Mas, além de Bonner, teve que dividir espaço e luz com Gerson Camarotti, outro especialista em Vaticano, deslocado de Brasília para Roma para, digamos assim, reforçar o colégio dos comentaristas.

E é aqui que a história faz sua conexão com este humilde porém ousado ContrapontoMS. Camarotti, não se sabe se por osmose, coincidência ou leitura clandestina das nossas colunas, entoou — e não foi só uma vez — a palavra “contraponto” como mantra para descrever o que será o papado de Leão XIV diante das estripulias de figuras como Donald Trump e seus pares do conservadorismo messiânico. O papa, dizia ele, será um contraponto ao ódio, à xenofobia, à negação da ciência. Um contraponto ao populismo de palanque e à fé instrumentalizada por algoritmos e fake news.

Ora vejam: Contraponto virou palavra de ordem no didatismo global. E nós aqui, no cerrado sul-mato-grossense, entendemos bem disso. Sabemos o peso de ser voz dissonante num coral ensaiado pelo poder. Por isso, não estranhamos o uso da expressão. Estranhamos, talvez, que só agora tenham descoberto seu valor.

Aliás, minha relação com Ilze Scamparini vem de outros carnavais — ou melhor, de outras coberturas. Fui testemunha de seu azedume já em 1990, quando ela ainda era repórter no Brasil e foi destacada para cobrir a eleição de Pedro Pedrossian ao governo do Estado. Coube a este que vos escreve, então diretor de jornalismo da TV Morena, ir buscá-la no aeroporto de Campo Grande. Ela não entendeu por que um diretor teria ido recebê-la — desconfiou, torceu o nariz, achou desproporcional. E pior: quando coloquei a matéria que ela havia produzido para o JN na edição do MS TV — que entrava colado, antes do Jornal Nacional — recebi uma bronca daquelas. Para ela, a matéria tinha dono. Era “da Globo”, e a exibição antecipada, mesmo com nosso equipamento, equipe, hospedagem e produção local, foi vista como uma afronta.

Nada pessoal. Apenas jornalismo. Mas nunca mais Ilze olhou para mim como um cristão piedoso. E confesso: sobrevivi.

Hoje, com Ilze no poleiro e Camarotti nos contrapontos, é bom lembrar que jornalismo, como o próprio Vaticano, tem seus conclaves silenciosos, suas vaidades acesas por incensos e suas disputas pela melhor vista da sacada.

Leão XIV começa seu papado com esperanças renovadas por muitos. Mas o que se viu na cobertura da eleição foi mais uma vez a prova de que, mesmo na Cidade Eterna, as vaidades são bem terrenas. E, no fundo, os embates entre Bonner, Camarotti e Ilze são apenas o reflexo, em versão global, das pequenas e grandes batalhas por espaço, voz e protagonismo que se repetem em qualquer redação — seja ela em Roma ou em Dourados.

Amém, e que os bons espíritos nos preserve críticos.

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