A Expoagro 2025 começou com poeira, adrenalina e discursos. Mas que ninguém se engane: o evento é muito mais do que o desfile das montarias e o burburinho das barracas. É ali, entre uma abraçadeira de curral e outra de palanque, que se molda parte do futuro político e jurídico de Mato Grosso do Sul. E do Brasil também.
O fim de semana foi sacudido com a presença do governador Eduardo Riedel, que anda espalhando simpatia e intenções pelo interior como quem semeia voto a granel. Ao lado dele, o ex-governador Reinaldo Azambuja, cuja discrição, na ribalta, para não constranger o sucessor, não impede o pleno manejo dos bastidores. A dobradinha entre eles deixou claro que 2026 já começou, ainda que disfarçada entre lances de reprodutores em leilões e apertos de mão suada no parque de exposições.
O anfitrião da vez, o chapeludo e hiperativo presidente do Sindicato Rural, Gino Ferreira, andava pra lá e pra cá com sorriso de quem sabe mais do que diz. E sabe mesmo. Anda se coçando de vontade de trocar o tatersal pelo plenário, onde terá que se apresentar de terno e gravata — e não de botina e chapéu. Não se sabe ainda se o destino será Campo Grande ou Brasília, mas uma certeza ele já tem: o apoio declarado do amigo Riedel, que o trata como “referência” do setor e, convenhamos, potencial aliado de palanque.
Enquanto os peões arriscavam a espinha por um troféu e duas motos zero km, políticos trocavam juras de fidelidade, gravavam reels e sondavam cenários eleitorais. O locutor Marco Brasil abriu os trabalhos com uma homenagem às mães, mas até o mais distraído dos espectadores sabia que, depois da bênção materna, o que se abria ali era uma arena de embates futuros. Quem viver, verá.
Mas nem só de festa e foto oficial vive a Expoagro. A programação da semana que começa agora é densa e promete atrair, além dos curiosos e consumidores de shows sertanejos, um público mais técnico e igualmente preocupado com o futuro do campo — o verdadeiro campo, aquele das dificuldades jurídicas e financeiras que poucos gostam de abordar nos palanques.
Destaque para o 8º Ciclo de Palestras “Direito e Agronegócio”, promovido pelo Sindicato Rural de Dourados em parceria com a OAB. Dois temas espinhosos estarão no centro do debate: recuperação judicial e regularização fundiária na faixa de fronteira.
Na próxima terça-feira, 13 de maio, às 14h, a advogada Emmanoele Vieira Scatolin, especialista em Direito Agrário, vai abordar um assunto delicadíssimo: a ratificação de imóveis rurais localizados na faixa de fronteira. Com uma legislação complexa e pouco difundida, muitos produtores sequer sabem que podem perder a posse de suas terras se não estiverem em dia com a papelada. Em tempos de grilagem, insegurança jurídica e vigilância internacional sobre o uso da terra, o tema não poderia ser mais urgente.
Logo depois, às 15h, entra em cena o advogado Lucas Capilé Pinotti, que falará sobre recuperação judicial como ferramenta de reorganização e continuidade para produtores rurais em dificuldades financeiras. É a nova realidade do agro: de um lado, cifras bilionárias e megainvestimentos; do outro, produtores endividados, em conflito com bancos e ameaçados por um mercado volátil e impiedoso.
A cereja bolsonarista do bolo vem na sexta-feira: o deputado Nicolas Ferreira, astro das redes e queridinho das plateias conservadoras, desembarca em Dourados para falar sobre… comunicação no agronegócio. Para muitos, mais um ato performático. Para outros, um reforço na campanha subliminar de 2026, em que a direita tenta reocupar corações, mentes e hectares.
Assim, a Expoagro confirma sua vocação multifacetada: é vitrine do agronegócio, mas também palco de vaidades políticas, espaço de formação técnica e laboratório de articulações. Um lugar onde o futuro da roça e o das urnas se cruzam sob os refletores de uma arena lotada — e onde, às vezes, os bois têm mais clareza de rumo que certos candidatos.