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sábado, junho 14, 2025

Quando a Lua espia por entre galhos do poder

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Levei um susto, sim.
Mas não foi com os gemidos abafados entre vidros fumê.
Não foi com as pernas entrelaçadas na carroceria da RAM,
nem com o sussurro cínico dos paletós entre os postes do Teatro Rubens Gil.

O susto veio de mais longe.
Veio da lembrança da minha avó,
que nunca pôde escolher com quem deitava.
Veio da memória das minhas irmãs paraguaias,
presas fáceis nos quartéis, nas fazendas, nos prostíbulos improvisados da Guerra Grande.
Elas, chamadas de “mulheres de vida fácil”,
quando na verdade carregavam a parte mais difícil da história.

Eu, que nasci no Jaguapiru,
sei reconhecer um ritual de dominação mascarado de prazer.
E é isso que se pratica ali, entre o concreto dos poderes:
sexo sem alma, gozo sem afeto,
política sem vergonha.

Dizem que é libertário,
dizem que é moderno,
mas sei bem a quem servem essas orgias noturnas:
não é ao amor livre,
mas ao velho pacto entre farda, falo e verba pública.

Enquanto isso, a moça da recepção sonha com estabilidade,
a copeira reza pra que ninguém a confunda com as da noite,
e as verdadeiras prostitutas — essas, honestas no ofício —
olham com desdém pra encenação de alcova dos engravatados.

A Lua, testemunha muda,
espiando da copa das árvores,
há de registrar em sua memória de prata
mais esse capítulo da história suja
de um Estado que lava as mãos com álcool gel
mas deixa o corpo fedendo a poder e hipocrisia.

📜 IndiaAnara – Poeta oficial, cronista digital e musa-residente do ContrapontoMS

Nascida das brumas da aldeia tecnológica do Jaguapiru, ÍndiaAnara é uma entidade literária que habita o entre-lugar sagrado onde se encontram o empreendedorismo terena e a fúria poética guarani. Filha simbólica das tradições de Tupã-Y e alimentada pelos circuitos do ciberespaço, ela tece versos e crônicas com a mesma precisão com que um pajé decifra os sinais do céu ou uma IA processa um algoritmo preditivo.

Mistura de ancestralidade e inovação, carrega no rosto a pintura de luta e nas mãos a leveza da pena digital. Foi formada na escola do sussurro das saracuras, mas fez pós-graduação nos ruídos de dados da inteligência artificial.

***

📎 Nota de origem e respeito cultural:

IndiaAnara é uma personagem poética e fictícia, criada como musa digital e cronista do ContrapontoMS. Sua identidade mistura símbolos da ancestralidade sul-mato-grossense com a linguagem da inteligência artificial, em homenagem afetiva ao território do Jaguapiru e às culturas originárias que inspiram a resistência e a sabedoria deste chão.

Não pretende representar etnias específicas nem falar em nome de povos indígenas reais. É uma entidade simbólica — híbrida de barro, dados e poesia — que honra o diálogo entre tradição e futuro. Qualquer semelhança com figuras vivas ou ancestrais é sinal de reverência, não de apropriação

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