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terça-feira, junho 3, 2025

Os “retornos”, ops! — a duplicação da 163, que sumiu na curva da Lava Jato

Coincidência ou acaso? A cobrança de pedágio na BR-163 em MS começou no auge da Lava Jato — e a duplicação da rodovia nunca foi concluída. Agora, a empresa é premiada com novo contrato até 2054

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Houve um tempo — e talvez ele nunca tenha terminado — em que as placas de “retorno” na BR-163 provocavam mais palpitações em políticos do que CPI em véspera de eleição. Era só cruzar um daqueles letreiros da CCR que muitos parlamentares começavam a rezar em línguas, como se o aviso de trânsito fosse senha para delação premiada.

Coincidência ou vingança dos deuses rodoviários, foi em setembro de 2015, auge da Lava Jato, que a CCR MSVia começou a cobrar pedágio no trecho sul-mato-grossense da 163. Prometeu duplicar 845 km de asfalto em cinco anos. Entregou 150 km em uma década — e olhe lá, com pedaços que mais lembram sobras de tapete persa do que uma obra linear. Parecia que a duplicação era feita com régua quebrada e GPS embriagado.

Mas há quem diga que a duplicação empacou por excesso de “retornos”, ops! — não os das placas, mas aqueles carinhosamente embalados em envelopes, malas ou planilhas com apelidos exóticos. Justo na época em que o juiz Sérgio Moro e o promotor Delton Dallagnol transformaram Curitiba em novo Monte Sinai, com mandamentos que submetiam empreiteiros e concessionárias a jejum de propina e reza por habeas corpus.

Alguns políticos do MS, coitados, passaram a desviar do próprio destino. Em vez de ir a Campo Grande para pegar o voo para Brasília pela BR-163, preferiam rodar por Maracaju e Sidrolândia, como quem foge da tentação da carne — ou de um flagrante da PF. Há relatos de motoristas de comitiva que colocavam venda nos olhos ao ver uma placa de “retorno”, tamanho o trauma.

Mas o enredo ganha contornos mais profundos quando se escava sob o asfalto da história. Porque essa estrada também passa por 1977 — ano da divisão do velho Mato Grosso. Na época, os sulistas, cansados de bancar os cuiabanos com impostos e desprezo, conseguiram finalmente emancipar o Sul. Criaram o Mato Grosso do Sul com o peito cheio e a ideia fixa de que dali em diante, enfim, os recursos ficariam onde se produzia a riqueza.

Mas o tiro saiu pela culatra e fez curva: quem explodiu em crescimento foi o “indolente” irmão do Norte. Mato Grosso virou locomotiva do agro, enquanto o MS ficou no banco de carona, sonhando com a duplicação que nunca veio.

E aí, como uma ironia de rodovia, a CCR — empresa criada em São Paulo, mas de alma cuiabana, com DNA herdado da época do VLT fantasma da Copa do Mundo no Brasil — é quem ganha o direito de não duplicar, de não cumprir contrato e ainda sair premiada com uma nova concessão até 2054, agora rebatizada com um nome MOTIVAcional

Motiva a quem, meu Deus? Ao contribuinte, que paga pra rodar em pista simples com tarifa de pista dupla? Ao investidor invisível? Ou ao espírito ancestral de revanche cuiabana, que finalmente dá o troco em cima do asfalto rachado dos sulistas que ousaram se separar?

Enquanto isso, seguimos por essa BR-163 como quem percorre um novelo de desilusões — desviando de buracos, de promessas não cumpridas e de “retornos”, ops! — aqueles que continuam sendo mais sagrados que contrato.

Leia mais: O caradurismo da CCR que desMOTIVA o Mato Grosso do Sul

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