21.6 C
Dourados
segunda-feira, julho 14, 2025

Irã enfrenta sua maior crise desde a Revolução Islâmica, mas será suficiente para derrubar o regime?

No poder há 36 anos, líder supremo do país já sobreviveu a ameaças anteriores e saiu ainda mais fortalecido

- Publicidade -

Sob as bombas de Israel está um regime iraniano impopular e repressivo, que gastou bilhões de dólares em seu programa nuclear e na exportação da Revolução Islâmica por meio de milícias armadas na região, enquanto comanda um desastre econômico interno e uma paralisia política sufocante.

Quem governa essa nação inquieta é o aiatolá Ali Khamenei, um autocrata de 86 anos, no poder há 36, na condição de guardião da revolução — um papel conservador que desempenha com habilidade. Khamenei não é um apostador. No entanto, seu sistema — distante de uma sociedade jovem e aspiracional — parece esclerótico para muitos. E agora está encurralado.

Em seis dias de combates, Israel atacou a instalação de enriquecimento de Natanz — onde é produzida a maior parte do combustível nuclear do Irã —, matou ao menos 11 generais do regime e vários cientistas nucleares, bombardeou instalações de energia e petróleo, tomou controle do espaço aéreo iraniano e provocou o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas de Teerã, a capital.

Até domingo, ao menos 224 pessoas já haviam morrido no Irã, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde. Esse número, no entanto, certamente subiu com a continuidade dos bombardeios. Mísseis iranianos mataram pelo menos 24 israelenses.

— A República Islâmica é um dente podre esperando para ser arrancado, como a União Soviética nos seus últimos anos — disse Karim Sadjadpour, especialista em Irã da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, em Washington. — Khamenei está na situação mais difícil que já enfrentou.

Mas o aiatolá já enfrentou ameaças antes e saiu fortalecido. Em 2009, quando milhões protestaram nas ruas de Teerã contra o que consideravam uma eleição presidencial fraudulenta, vi de perto como milícias licenciadas pelo Estado agrediam brutalmente mulheres que exigiam dignidade e liberdade. Por alguns dias, o futuro do regime esteve por um fio. Mas, com absoluta brutalidade, ele sobreviveu. Centenas de manifestantes foram presos, torturados, sodomizados e assassinados.

Ainda é cedo para saber se o atual momento levará ao colapso do regime. Gritos isolados de “Morte a Khamenei” ainda ecoam, mas protestos populares são impossíveis sob bombas — e sempre perigosos sob um governo autoritário. Faltam também líderes visíveis para conduzir qualquer transição política, exatamente por causa da repressão.

Khamenei, por sua vez, mantém a postura desafiadora. Na quarta-feira, respondeu à ameaça de morte feita pelo presidente americano, Donald Trump, e ao apelo por “rendição incondicional” dizendo:

— O Irã se mantém firme diante de uma guerra imposta, assim como se manterá diante de uma paz imposta. Não cederemos a nenhuma imposição.

É o tom típico de um país orgulhoso que se insurgiu contra o Ocidente há quase meio século, com a revolução do aiatolá Ruhollah Khomeini, que depôs o xá e transformou “Morte à América” em refrão semanal.

Contudo, a insurreição nunca entregou a liberdade prometida. A frustração só cresceu, seja por conta do hijab obrigatório para mulheres que não desejam usá-lo, seja devido à gestão econômica cronicamente falha.

O PIB do Irã caiu 45% desde 2012. Muitos vivem em desespero. Sanções internacionais pelo programa nuclear contribuíram para esse colapso, mas também pesaram a corrupção, privatizações malsucedidas e empresas estatais inchadas. O Irã chegou a firmar um acordo nuclear com os EUA no fim do governo Obama, mas Trump rasgou o pacto no início de seu mandato.

— A principal mensagem que o povo iraniano quer transmitir é: depois de tudo isso, que o resultado final seja o fim desse regime horrendo — disse um empresário iraniano com base nos Emirados Árabes Unidos, que pediu anonimato por temer ser preso pela República Islâmica.

Ao mesmo tempo, com os bombardeios israelenses persistindo, surgem sinais de um surto patriótico até entre opositores do regime que já estiveram presos. Para alguns, a vulnerabilidade agora exposta só confirma a necessidade de o Irã possuir sua própria bomba nuclear, como a da Coreia do Norte. Paquistão, Índia, Rússia e Israel já têm armas nucleares.

— Mesmo fazendo parte da oposição, não podemos ser indiferentes à invasão de nossa pátria — escreveu o professor de ciência política Saddagh Zibakalm em um jornal iraniano. — Não podemos ficar em silêncio ou pior, apoiar o agressor.

Em 2016, ele se recusou a pisar em bandeiras dos EUA e de Israel em uma universidade em Mashhad.

Com a maioria dos 92 milhões de iranianos contrária ao regime, segundo Sadjadpour e outros analistas, era provavelmente inevitável que a campanha militar israelense, iniciada com um objetivo limitado, fosse se ampliando.

Segundo o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, os ataques começaram como uma “ação preventiva” para impedir o Irã de transformar urânio enriquecido em arma nuclear. Mas a missão inicial já foi substituída por algo maior. Agora, Trump fala em “um fim de verdade, não um cessar-fogo, um fim real”, enquanto Netanyahu não esconde seu objetivo:

— Temos indícios de que líderes iranianos já estão arrumando as malas. Eles sabem o que está vindo.

Ainda não há provas de que os líderes sobreviventes estejam fugindo, e não está claro como os ataques israelenses poderiam enterrar de vez a República Islâmica.

O risco de caos após uma eventual queda do regime é real. Os exemplos recentes do Iraque, em 2003, e da Líbia, em 2011, servem de alerta: a derrubada de ditadores por forças ocidentais pode deixar um rastro de instabilidade.

Seria tolice subestimar a determinação da República Islâmica de sobreviver — e o quanto ela está disposta a sacrificar por isso.

— A República Islâmica está humilhada como nunca esteve — disse Vali Nasr, ex-reitor da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins. — Mas ainda pode resistir tempo suficiente para exaurir Israel e arrastar os EUA para um conflito que eles não querem.

Roger Cohen/The New York Times

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-