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domingo, julho 13, 2025

Trump arrisca seu legado em ataque ao Irã

Incertezas definirão o rumo do conflito O regime de Teerã responderá aos ataques? Como pode ser a tréplica de Trump? Há risco de escalada para uma guerra regional?

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Difícil prever o futuro do conflito entre os EUA e o Irã depois do bombardeio ordenado por Donald Trump às instalações nucleares iranianas na madrugada deste domingo no horário local. Há uma série de variáveis que podem resultar tanto em um sucesso sem paralelo para o presidente americano como início de um fiasco similar aos de George W. Bush no Iraque e no Afeganistão. Qualquer avaliação aqui seria especulativa.

Podemos falar do presente, claro. Trump está eufórico e vende a ideia de que agradou aos falcões bélicos de seu partido ao bombardear Fordow, Natanz e Isfahã, e à ala mais isolacionista ao indicar ter sido uma ação pontual e não uma campanha militar para derrubar o regime como Bush fez com Saddam Hussein e o Talibã. Esse é dos raros pontos sobre que podemos falar com alguma certeza. Mas são as incertezas que definirão o rumo do conflito. O regime de Teerã responderá aos ataques? Caso opte por responder, como realizaria esse contra-ataque? Se houver essa reação, como pode ser a tréplica de Trump? Há risco de escalada para uma guerra regional?

Outra incerteza é sobre o efeito dos bombardeios americanos. Sem dúvida, provocaram enormes danos às instalações nucleares. Mas não temos ideia do impacto ao programa nuclear iraniano e se o regime, prevendo o bombardeio, já tinha tomado medidas para remoção de centrífugas e urânio enriquecido para outras áreas. Diante deste cenário especulativo, o regime optaria por seguir o caminho da Coreia do Norte e fabricar uma bomba? Ao mesmo tempo, não temos como saber se Teerã mantém essa capacidade.

Outro imponderável é a guerra entre o Irã e Israel que já dura dez dias. Quais os próximos passos dos israelenses? Ao contrário de Trump, Benjamin Netanyahu não esconde seu desejo de derrubar o regime em Teerã. Até agora, no entanto, não há indícios de que haja sequer protestos contra os aiatolás, com a população iraniana no modo sobrevivência diante dos bombardeios. Com o passar das semanas, dependendo de que rumo tomar o conflito, especialmente no que diz respeito aos EUA, este cenário pode mudar.

De todas as decisões de Trump desde que assumiu a Presidência em seu primeiro mandato, a de bombardear o Irã tende a ser a de maior consequência para o seu legado. Reverter a adoção de tarifas é algo relativamente simples, apesar dos impactos econômicos. Não há, obviamente, como reverter bombardeio. O presidente deve ter consciência disso e tomou uma decisão de risco. Todos nós associamos alguns de seus antecessores a fracassos no Vietnã, Iraque e Afeganistão. Outros a sucessos na Primeira e na Segunda Guerra Mundial.

Bombardear o Irã foi um evento histórico na relação entre os dois países e se soma ao golpe organizado pela CIA (e nunca negado) para eliminar o sistema democrático do Irã então comandado pelo premier Mohammad Mossadegh, ultrapopular no país, em 1953, e intstalar a ditadura pró-EUA do xá.

O segundo momento, naturalmente, foi a Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1979, que derrubou o regime ditatorial do xá Mohammad Reza Pahlevi e instalou o regime extremista religioso xiita. O terceiro, logo em seguida, foi a tomada da embaixada americana em Teerã, quando dezenas de diplomatas ficaram nas mãos dos revolucionários por 444 dias até serem libertados minutos depois de Ronald Reagan tomar posse em 1981.

O quarto momento ocorreu quando o ex-presidente americano Barack Obama assinou, junto com outras potências, o acordo nuclear com o Irã para coibir o enriquecimento de urânio. O quinto, três anos depois, tem como marca a decisão de Trump de sair do acordo, abrindo as portas para o Irã incrementar o enriquecimento de urânio. O último, e maior de todos, aconteceu nesta madrugada com os bombardeios às instalações nucleares. O impacto dessa decisão será sentido por anos ou décadas.

 Guga Chacra/O Globo — Nova York

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