Leitor, prepare o estetoscópio: o ContrapontoMS recebeu, na noite passada, o exame de DNA que encerra a novela sobre quem, afinal, fecundou a tão prometida passarela de acesso ao Conjunto Residencial Dioclécio Artuzi. Segundo o laudo entregue pelo presidente da UDAM, José Nunes, o pai legítimo atende pelo nome de Murilo Zauith, ex-vice-governador e, à época, secretário de Infraestrutura do estado.
Portanto, nem Isa Cavala Marcondes como madrasta, nem Lia Nogueira — “a mãe aqui”, como gosta de se autoproclamar toda vez que o governo pinta meio-fio na região — conseguiram manter a guarda da tão falada passarela do Dioclécio Artuzi. Muito menos os tios afetivos Zé Teixeira, Neno Razuk e outros agregados de última hora que surgem sorrindo em cada placa de obra prometida. A verdade veio à tona com a precisão de um laudo médico: o verdadeiro pai da passarela é Murilo Zauith, ex-vice-governador, engenheiro de formação e, agora, oficialmente, o genitor do mais disputado rebento do urbanismo douradense.
Quem trouxe à luz essa verdade uterina foi o presidente da UDAM (União Douradense das Associações de Moradores), José Nunes, que, qual parteiro das causas esquecidas, entregou ao ContrapontoMS um simbólico “exame de DNA” confirmando a paternidade incontestável de Zauith. O momento da concepção? Data, local e circunstância são dignos de roteiro: 30 de abril de 2020, sob a sombra de uma frondosa mangueira, na velha sede da Agesul, reduto de Murilo quando baixava em Dourados para despachar e arquitetar projetos, literalmente. Segundo Nunes, o clima era de pura sintonia entre o então secretário de Infraestrutura e a Associação de Moradores do Dioclécio. “Foi namoro com a Associação, seguido de casamento. Até o projeto saiu das mãos dele, com todo o layout pronto. Só foi assinado depois por um engenheiro da Agesul, como manda a burocracia.”

Testemunhas do enlace? Estavam lá a presidente da Associação, Liandra Roberta Montezelli Borges, e o então vereador Olavo Sul, que podem confirmar que a ideia da passarela não nasceu de barriga de aluguel, nem foi achada em edital perdido. O projeto era concreto — no papel e na intenção. Mas como em toda boa história política, o conto de fadas foi interrompido pelo então governador Reinaldo Azambuja, que preferiu cortar o cordão umbilical e exonerar Zauith, alegando “inconveniências políticas”. Tradução: Murilo estava pensando demais com a própria cabeça e de menos com os interesses palacianos.
De lá para cá, a criança ficou largada, sendo disputada por supostos tutores que sequer estiveram presentes no parto. Alguns tentam posar para a foto com a fita inaugural, mesmo que a obra ainda esteja no estágio de ultrassom. Outros lançam release dizendo que a “mãe aqui” sempre lutou pelo projeto — como se bastasse uma selfie com capacete para assumir a maternidade de um esforço alheio.
Mas o DNA político não mente. E como diria o poeta da periferia institucional: não adianta vestir o macacão, se não foi você quem cavou o buraco. A passarela tem pai, tem data de concepção e tem testamento público lavrado em ata de reunião comunitária. Se não nasceu antes, foi porque lhe roubaram a incubadora — ou porque o novo governo resolveu adotar a obra sem reconhecer a certidão de origem.
A dúvida que fica é: quem vai assumir a pensão moral dessa criança urbanística? Quem vai dar o leite das verbas, o pão do cronograma e o cobertor da licitação? E mais: a quem caberá cortar a fita sem roubar o mérito de quem já estava com a prancheta na mão quando os outros ainda se preocupavam em ajeitar o paletó?
Como de costume, o ContrapontoMS segue na vigília. Se preciso, faremos novos testes de paternidade, maternidade e até de DNA ideológico, para evitar que obras públicas sejam transformadas em filhos bastardos do marketing eleitoral.
E que nenhuma madrasta tente envenenar a maçã com discursos reciclados. A passarela pode até demorar a ficar pronta, mas a verdade já atravessou a BR faz tempo — sem necessidade de ponte, mas com um laudo incontestável na mão.