Quando Donald Trump, o bufão laranja da diplomacia mundial, para tudo o que está fazendo — entre um processo e outro, entre um penteado de pombo e um bombardeio aqui outro acolá, sem acabar com guerras em um dia, como prometeu na campanha — para mandar uma cartinha ameaçadora diretamente a Lula, não é por afinidade com Bolsonaro, como dito na missiva, nem por protocolo. É por puro desespero. Desespero não só de ver o aliado tropical — aquele que tentou copiar seu golpe e só conseguiu uma tornozeleira moral — sendo investigado, julgado e talvez, quem sabe, condenado. Desespero maior, por saber do risco de perder a cena mundial para Lula.
A ameaça foi clara: se não deixarem Bolsonaro em paz, Trump pode “intervir”. Como, ninguém sabe. A menos que mande seus B-2 bombardearem a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ou talvez despachando para cá o Steven Seagal de novo, agora com o uniforme do Bope. Ou talvez escrevendo um novo tweet, já que bilhetes físicos estão meio fora de moda — exceto quando se quer dramatizar a entrega, como um valentão do colégio que manda bilhete na mão do bedel.
O fato é que o bilhetinho atravessou fronteiras e caiu direto no colo de Lula — o operário de Garanhuns que se tornou estadista global, odiado por extremistas, elogiado por banqueiros e agora requisitado até por ex-presidente americano como destinatário de ameaça diplomática. Nunca antes na história deste país um líder brasileiro recebeu uma cartinha de um bilionário gringo pedindo clemência… para um golpista.
Mas como a política tem suas ironias, o efeito da carta foi o oposto. Ao invés de intimidar, reforçou o prestígio de Lula no exterior. O mundo inteiro assistiu perplexo à cena: um presidente dos EUA escrevendo ao presidente do Brasil para defender um ex-presidente inelegível. Só faltou assinar com caneta de tinta invisível e usar papel timbrado da CIA.
Por aqui, o impacto foi imediato. O PT, que andava meio morno, se reaqueceu. O nome de Zeca do PT, adormecido nos bastidores, voltou à boca de prefeitos, vereadores e caciques regionais como solução para 2026. Afinal, se até o Trump está pedindo arrego, por que não um terceiro mandato para o Zeca?
E em Dourados, o efeito colateral da cartinha foi ainda mais saboroso: Tiago Botelho, aquele petista que nunca sai das redes, ganhou munição de campanha. Pode dizer agora, sem exagero, que é o único pré-candidato ao Senado respaldado indiretamente por uma crise diplomática. Vai ter marqueteiro perdendo sono pra traduzir isso num jingle.
A cartinha de Trump, escrita no calor da ignorância e na tinta do desespero, virou peça de campanha do lulismo. Sem querer, o laranja azedo reacendeu o vermelho apagado, reoxigenou o discurso do “nós contra eles” e colocou Bolsonaro de volta ao noticiário — como objeto de súplica alheia, não de autoridade própria.
No fim das contas, o maior feito de Trump foi provar que Lula ainda é o cara, como asseverava seu antecessor Barack Obama. O cara que recebe cartinha de ex-presidente americano pedindo paz. O cara que pode fazer Zeca do PT renascer das cinzas. E o cara que, mesmo sem querer, pode garantir a eleição do primeiro senador de Dourados.
Se continuar assim, Trump vai acabar fundando o PTP — Partido dos Trumpistas Pró-Lula. E, cá entre nós, só falta mandar flores com o próximo bilhete. E, com isso, solidificando o tema das próximas eleições: ricos x pobres.