No rastro da cartinha de Donald Trump os brasileiros tentam curar a ressaca do day after. Sim, aquele mesmo Trump que mal consegue terminar uma frase sem ameaçar a gramática ou a democracia. Desta vez, não foi para Kim Jong-un, nem para o carteiro do Putin. Foi para Lula. Uma cartinha. De pai para pai. De bufão para estadista. De investigado para chefe de Estado com foro e estofo.
A carta, escrita às vésperas do julgamento do capitão e seus generais, trazia aquele tom paternal-patético típico do presidente americano: se mexerem com Bolsonaro, estarão mexendo com ele, Donald J. Trump — como se fosse CEO da filial brasileira da ultradireita global.
Bolsonaro vibrou. Achou que tinha ganhado o green card de volta. A milícia digital acendeu velas, invocou o “mito” e decretou feriado no WhatsApp. Mas, enquanto a carta circulava em grupos de Telegram, o dólar subia na Faria Lima, a soja tremia nos dois Mato Grossos e no Goiás, e a diplomacia brasileira revirava os olhos.
No Jornal Nacional, Lula — pressionado pelas perguntas escritas sob medida pela redação da Vênus Platinada e lidas com correção e leve constrangimento pela cuiabana Délis Ortiz — respondeu com firmeza e finesse. Sem perder o rebolado, devolveu à Trump a ameaça com um sorriso e um aceno: “retaliação, sim, mas com consulta aos nossos parceiros”.
Foi além: disse que a convivência entre os BRICS “é uma delícia” — sem ciúmes, sem fake news — e deixou no ar a ideia de uma moeda internacional para o bloco, “já que não temos a maquininha de imprimir dólar”. Um aceno ao multilateralismo e uma alfinetada no monopólio ianque, tudo no mesmo parágrafo. De quebra, avisou que está abrindo novos mercados para os produtos brasileiros, ampliando rotas e reafirmando que o Brasil é mais do que um curral ideológico para youtubers golpistas.
Na Praça dos Três Poderes, Hugo Mota (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado) fingiram que não era com eles, pelo menos até que isso afeta o “retorno”, ops!, de suas emendas parlamentares. No Planalto, a cartinha foi protocolada, arquivada e — segundo fontes — já virou meme em grupos internos: “Querido Lula, não solte o Bozo. Assinado, Trum Papai.”
E no STF, Alexandre de Moraes já mandou providenciar tradução juramentada da carta para incluí-la nos autos — com carimbo vermelho de “INDEFERIDO”, claro.
Porque no Brasil de 2025, cartinha de Trump não vale nem como prova de boa conduta. Vale como recibo de desespero.