Na foto, três sorrisos escancarados, três camisetas estampadas com a bandeira americana e um oceano de submissão ideológica travestida de patriotismo importado. É o novo retrato do bolsonarismo pantaneiro: o deputado gordinho de estimação de Jair, a vice-prefeita de Dourados com o coração em forma de bandeira — dos outros —, e o próprio mito tropical, agora fantasiado de tiozão da Flórida.
É o complexo de vira-latas elevado à categoria de doutrina política. Um culto devoto ao messias ianque Donald Trump, mesmo quando o bufão laranja resolve ferrar com o Brasil metendo tarifas nos nossos produtos — do aço à soja, passando pela autoestima nacional. Mas a lealdade, veja bem, é de joelhos. A cada nova bravata de Trump, os nossos bolsonaristas locais estendem o tapete, balançam a bandeira e, se pudessem, cantariam o hino norte-americano antes das sessões da Câmara e da Assembleia.
Por isso, nada mais justo que exigir coerência estética: o vereador Sargento Prates, fiel escudeiro da moral e dos bons costumes (american style), que vá às sessões do Jaguaribe com a águia estampada no peito, jurando lealdade não mais à Constituição brasileira, mas à Segunda Emenda norte-americana. E que Gianni Nogueira, vice-prefeita decorativa, substitua o brasão de Dourados no gabinete por uma foto da Estátua da Liberdade.
Já o ex-governador Reinaldo Azambuja, que prepara sua montaria eleitoral para galopar em direção ao Senado, bem que poderia mandar bordar na sela do cavalo a inscrição “PL-USA” — homenagem ao partido de Waldemar Costa Neto e ao espírito de Miami que agora inspira seu retorno ao palanque. Afinal, quem troca o ninho tucano pelo chiqueiro bolsonarista, que o faça com as estrelas e listras costuradas nas rédeas e no coração.
Enquanto isso, o povo — esse mesmo que paga pedágio caro, que amarga salário mínimo e que vai continuar pagando pelas tarifas do Trump — segue sem saber se está sendo governado por brasileiros ou por agentes consulares do trumpismo caipira.
A cena é patética, mas reveladora: não é mais apenas a política que se ajoelha. É a própria identidade nacional que se dobra, se envergonha de si e sonha com um green card na lapela.