Tarcísio de Freitas surgiu na política como promessa de uma nova direita: asséptica, de fala mansa, com PowerPoint em vez de porrete e planilhas no lugar de pancadaria. Venderam-no como o “bolsonarista de verniz” — o engenheiro gestor, eficiente como um suíço, técnico como um japonês, calado como um monge. Era o Tarcísio 1.0, o projeto de “civilização possível” para a extrema-direita brasileira.
Mas bastou o sopro das eleições de 2026 no cangote para que o verniz rachasse.
E do técnico emergiu o vassalo. Nasceu o Tarcísio 2.0: submisso, tosco e deslumbrado — um cão de guarda do capitão, latindo contra o Supremo e babando de empolgação a cada aceno de Trump, o farsante tingido de golpe frustrado.
A cereja no bolo do desvario veio esta semana: Tarcísio pediu ao STF que liberasse Bolsonaro — inelegível, réu e com passaporte retido — para “negociar com Trump” a crise do tarifaço. Um pedido que, se não fosse trágico, seria digno de pastelão. Uma proposta sem noção, sem senso de Estado, sem o menor traço de maturidade.
Com que autoridade alguém chutado das urnas negociaria em nome do Brasil? Com que sanidade se propõe mandar o incendiário apagar o fogo?
Ao vocalizar esse devaneio, o governador mostra que não apenas falta preparo para governar o país — falta chão, sobriedade e coragem de se livrar da coleira ideológica que o prende a um projeto já condenado pela história (e por decisões judiciais).
O Brasil enfrenta inflação, juros, catástrofes climáticas, dilemas geopolíticos. E Tarcísio, com a desenvoltura de um estagiário do Twitter, ocupa o noticiário internacional como o homem que sugeriu mandar um inelegível falar com um insurrecto. Tudo isso embalado por um discurso de submissão travestido de patriotismo.
Não se trata mais de bolsonarismo disfarçado. Trata-se de bolsonarismo de quatro patas.
Tarcísio hoje não lidera: late por comando, abana por conveniência, rosna contra o STF e se encolhe diante da responsabilidade. O governador que se dizia técnico virou figurante de uma peça empoeirada, onde o presidente é um inelegível, o interlocutor é um golpista condenado e o Brasil é só pano de fundo para delírios de grandeza.
É assim que se ensina ao país como NÃO ser presidenciável. Com subserviência no discurso, covardia no gesto e coleira no pescoço.
O Brasil precisa de estadistas. Não de mascotes com ambições de trono.