26.3 C
Dourados
quinta-feira, agosto 14, 2025

O relincho da incoerência

Vereadora Isa Cavala propõe que cada edil tenha uma causa definida — mas esquece que já invadiu mais território que cercado de comitiva em dia de eleição

- Publicidade -

Em discurso que prometia balançar as estruturas do Shopping Avenida Center — curralsinho provisório da Câmara Municipal de Dourados —, a vereadora Isa Cavala, com sua retórica em marcha batida, acabou se limitando a uma sugestão pueril: que cada vereador adote uma causa, para que não haja invasão de áreas alheias. Até aí, seria uma proposta interessante. Não fosse, claro, o fato de ter nascido contaminada no próprio ventre da incoerência.

Sim, porque a primeira a empinar crina onde não foi chamada foi justamente ela. Desde antes da eleição, a cavaleira de prontidão vive se imiscuindo nas atribuições da saúde pública — invadindo UBSs, confrontando servidores, distribuindo vídeos como quem distribui ração em cercadinho de vaquejada. Tudo isso enquanto dirige-se na tribuna à presidência da Casa, hoje ocupada por Liandra da Saúde — nome político que, aliás, já deveria ser suficiente para delimitar território.

Ou seja: a primeira a invadir a cerca do outro foi a própria Cavala.

Mas suponhamos — só para seguir no exercício retórico — que sua proposta vingue enquanto ela estiver vereadora. E tempo do verbo aqui não é à toa: “estiver vereadora” não é figura de estilo, mas constatação pragmática. Cavala se encontra diante de uma bifurcação estratégica: ou amansa os cascos, doma a língua e se alinha com o establishment (incluindo o padrinho Zé Teixeira e o prefeito Marçal Filho), ou segue trotando livre, leve e barulhenta, rumo a um processo por falta de decoro que pode lhe custar o mandato antes mesmo da corrida de 2026.

Se for mantida vereadora, e se sua proposta for acatada, o ideal seria selar essa divisão de tarefas num sorteio solene — durante sessão plenária, com transmissão ao vivo, para garantir a presença das redes sociais e do tribunal do WhatsApp. O primeiro embate seria entre ela e Liandra: quem fica com a saúde? Palitinho democrático. Caso perca, Liandra poderia optar por aposentar o “da Saúde” e adotar o Brambila de batismo.

Perdendo no palito, à Cavala restaria um reduto ainda não invadido com tanto vigor: a causa LGBTQIA+. Mas esse nicho já tem dono com CPF e mandato: Franklin Schmalz. Mais um duelo no palito. E se Franklin perder, que tal cumprir aquela velha promessa de campanha — a cada voto, uma árvore plantada? Fica aqui a dúvida que não relincha calada: quantas árvores ele já plantou? Ou a promessa só valia para a eleição que perdeu?

Entre os demais, alguns já se agarraram às suas causas como carrapato em canga:
– Carla Gomes, com seu “latido” constante em defesa dos pets, é clara e sem disfarces.
– Sargento Prates não tem tempo pra isso: a causa dele é uma só — o bolsonarismo raiz, com Deus, Pátria, Família e talvez uma Glock na cintura.
– Ana Paula Benites, diretora de escola, não teme invasões: a educação é dela e “boi não lambe”.

Aos sem-causa, sem-pasto e sem-palanque, propõe-se um mapa: dividam os bairros. Dill do Povo que fique com o Canaã I, onde pasta solto, e os demais se espalhem pela periferia — nem que seja pra sugerir plaquinhas com nome de rua de recém-falecidos.

E, por fim, aqueles que não tiverem nem causa, nem bairro, nem coragem de falar — que se contentem com o feijão-com-arroz do vereador de um mandato só: além de mudar nome de rua, conceder honrarias a amigos e parentes e cortar fitinha em inauguração de banheiro.

Porque, no fundo, o relincho da incoerência é só o som ambiente de um Legislativo que ainda se debate entre a sela da vaidade e a carroça da relevância.

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-