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sexta-feira, julho 25, 2025

O covardão do pen drive na suíte presidencial da Papuda

Bravatas, delírios e esquecimento seletivo: a saga do inquisidor que virou interrogado, com suíte reservada no presídio que chamava de destino alheio

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Dizia Jair Bolsonaro, ainda presidente da República, que “se a Polícia Federal fosse bater em sua porta, seria recebida a tiros.” Bravata digna de bangue-bangue de beira de estrada. O ex-capitão gostava de se exibir como justiceiro do Cerrado: peito estufado, dedo em riste, arminha na mão e discurso milicento na língua. Era o tempo do cercadinho, dos gritos contra o Supremo Tribunal Federal, das lives com cloroquina e dos memes sobre o “presidiário”.

Sim, “presidiário” era como ele se referia a Lula.

Nos debates, nos palanques, nas entrevistas — sempre com escárnio e desdém. E o que mais o incomodava, dizia ele, era o “não sabia de nada” do petista. A suposta “amnésia seletiva” de Lula na Lava Jato era retratada por Bolsonaro como prova de culpa, covardia e cinismo.

Mas eis que a roda do tempo gira.

E gira do seu jeito: cínico, lento, cruel e literário. Não a Roda do Tempo da fantasia de Robert Jordan — uma série de quatorze livros (já estou no oitavo!) — mas a nossa roda brasileira, feita de toga, tornozeleira, tarifas e papel timbrado do STF.

Hoje, é o próprio Bolsonaro que se senta diante do polígrafo da história. E o que ele responde?

“Não lembro.”
“Não sei se entreguei.”
“Talvez tenha sido meu ajudante de ordens.” (Tenente-coronel Cid, o delator de Bolsonaro).
“Era só um pen drive…”

Nem o detector de mentiras daria conta. A máquina entraria em curto, o gráfico viraria ziguezague e o software pediria asilo político. Bastaria uma pergunta simples:

— “O senhor sabia que havia uma minuta de golpe?”

BIIIP.

— “Foi o senhor quem mandou seu filho pedir socorro ao Trump?”

BIIIIIIP.

— “O senhor acredita na democracia?”

💥 Explosão. Fumaça. A máquina morre de vergonha.

O mesmo Bolsonaro que dizia que receberia a polícia “na bala” hoje recebe a PF com olheiras, gravata torta e um advogado sussurrando no ponto eletrônico. Não se sustenta nem como valente, nem como vítima — e muito menos como inocente.

É curioso — e tragicômico — que ao menos seu pupilo Roberto Jefferson teve a coerência da loucura: enfrentou a PF com escopeta e granada. Um delírio criminoso, sim. Mas um delírio assumido. Já Bolsonaro é o pior tipo de personagem: o que se faz de lobo, mas foge como cordeiro.

Hoje, o ex-presidente está mais para cavaleiro do Apocalipse desmoralizado, cavalgando em círculos com sua trombeta imaginária, anunciando o fim dos tempos entre gemidos, versículos mal citados e advogados nervosos.

A suíte presidencial da Papuda talvez o aguarde — não com festa, mas com silêncio institucional e café requentado de garrafa térmica. Reserva, claro, feita pela PGR, a pedido de Xandão. Um destino paradoxal para quem dizia que presídio era lugar para petista.

E Lula?
O “nove dedos”, como Bolsonaro também gostava de dizer, sem nenhum pudor, hoje é o presidente da República.

Absolvido. Reabilitado. Reativo.

Assiste de camarote ao colapso do inquisidor em seus estertores.
E sem precisar zombar — basta deixar o tempo fazer o trabalho sujo.

Aliás, se tem alguém de quem Lula zomba hoje é de Trump, o que obrigou Bolsonaro a reensinar o catecismo — pelo menos à família: “Trump, pátria — mas a americana — e família.” Complexo de vira-lata é pouco.

Ironicamente, aquele versículo bíblico repetido à exaustão nos palanques do bolsonarismo — “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32) — agora ecoa como sentença invertida: a verdade não libertou o ex-capitão. Prendeu. Não foi libertação — foi diagnóstico.

Esse é o tipo de enredo que nem Robert Jordan teria coragem de escrever se ainda estivesse vivo, porque sua Roda do Tempo, por mais longa que seja, nunca ousou tanto. Aqui, no Brasil, a roda gira como ironia encarnada. E quando gira… é para esmagar com requintes de justiça literária.

A história não perdoa. E o pen drive, ao que tudo indica, tem memória melhor que o ex-capitão.

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