No reino encantado da extrema direita brasileira, onde até derrota vira “vitória moral” e tornozeleira eletrônica é tratada como símbolo de martírio messiânico, o ex-presidente Jair Bolsonaro — réu, inelegível e, agora, monitorado — rompeu o silêncio. Apontando para o calcanhar de Aquiles (literalmente), declarou:
“Isso aqui é um símbolo da máxima humilhação.”
O objeto sagrado em questão — a tornozeleira imposta por ordem do ministro Alexandre de Moraes após recomendação da PGR, que temia uma nova “fuga para o Egito” — já vinha sendo mantido sob sigilo visual. Mas bastou um clique do deputado Maurício do Vôlei (PL-MG), que publicou a imagem como se fosse relíquia de campanha, para abrir a temporada da comoção digital.
Ao lado de Bolsonaro, em permanente estado de vigília emocional, está ele: o Gordinho do Bolsonaro, parlamentar fiel de Dourados, que agora assume a função de Guardião da Tornozeleira — cargo não remunerado, mas com grande projeção entre devotos do cercadinho e defensores do “perseguido político mais monitorado da história deste país”.
Enquanto a tornozeleira brilha sob o facho do abajur presidencial, o ex-capitão segue proibido de acessar redes sociais, falar com Eduardo (o filho que já negocia sanções com Trump), encontrar outros investigados ou representantes de embaixadas, sair à noite e fazer churrasco no fim de semana (ao menos fora de casa).
Mas segue liberado para reclamar. “Covardia”, disse. “Suprema humilhação.” Dessa vez, não com farda, nem com faixa. Só com o bracelete do tornozelo e o gordinho ao lado — em oração, vigília e clamor. Porque quando o mito cai, sempre sobra alguém para ajoelhar ao pé do altar eletrônico. E limpar, se for preciso, a lente do GPS com paninho de microfibra patriota.