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sexta-feira, dezembro 5, 2025

“Bate na cara, espanca até matar. Arranca a cabeça dele e joga ela pra cá… Eu pego o vagabundo e bato nele até morrer”

Episódio de militarização radical coincide com movimento político de Azambuja rumo ao PL e evidencia o ambiente de tensão e revanche após o 8 de janeiro

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Não, não se trata de ordem de execução de chefes do PCC ou do Comando Vermelho, as duas maiores facções criminosas do país. Trata-se de um “grito de guerra” entoado dentro da própria Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, durante a formatura de uma nova turma de soldados para a nossa (in)Segurança Pública. Como título não é lead — até porque a plataforma não aceita frases tão grandes assim — transcrevo a íntegra do tal grito de guerra para entrarmos em um dos temas mais sombrios já tratados por aqui, justamente porque estamos no ápice da crise gerada pela tentativa de golpe de Jair Bolsonaro e seus generais. Pior: pelas consequências disso, diante da iminência de ver todos os líderes golpistas, um a um, rumo à Papuda — aliás, já tem general bolsonarista quatro estrelas encarcerado, puxando a fila — enquanto o tarifaço de Donald Trump transforma tudo num pandemônio:

“Bate na cara, espanca até matar. Arranca a cabeça dele e joga ela pra cá. O interrogatório é muito fácil de fazer. Eu pego o vagabundo e bato nele até morrer. Desce aqui e venha conhecer. A tropa da PM que cancela CPF.”

A tropa da PM que cancela CPF? Adiantando-me à previsível lacração dos bolsomínios, como não ligar um episódio de tamanha gravidade a Jair Bolsonaro e sua tropa golpista? Afinal, não era esse o bordão do ex-presidente e sua militância nas redes para glorificar execuções sumárias em operações policiais — “bandido bom é bandido morto”?

O grito de guerra da polícia do MS é tão assustador que a reação foi imediata. Como o governo Riedel é uma unanimidade não tão burra, coube a um aliado de primeira hora botar a boca no trombone: ninguém menos que o ex-governador e hoje deputado estadual Zeca do PT, que, diante de tamanha insensatez, talvez reveja posições e deixe de votar “tudo” conforme a orientação de seu líder na Assembleia, o decano Londres Machado.

Para Zeca o grito de guerra com dizeres violentos representa a “estupidez e a insensibilidade próprias de ditaduras”. O deputado anunciou que já acionou sua equipe jurídica para elaborar requerimento de informação cobrando esclarecimentos da Polícia Militar e punição dos responsáveis. “Para saber quem autorizou tamanha indecência”, disse o parlamentar.

O governador Eduardo Riedel, que quando se trata de Segurança Pública prefere delegar funções ao vice Barbosinha — ex-secretário da área — limitou-se a uma nota oficial, o básico do manual de crise, repudiando o ocorrido, garantindo que o canto não representa “os valores da corporação” e prometendo “rigorosa apuração”. Tradução: todo mundo finge surpresa e vida que segue — até o próximo vídeo vazar no WhatsApp.

Mas como ignorar que a inserção no manual da PM/MS do conceito bolsonarista de “cancelar CPF” — com requintes de crueldade explícitos, revela mais que um desvio de conduta isolado? Revela a sedimentação de uma cultura política que ainda reverbera o 8 de janeiro e o ressentimento que se espalhou desde então. Não à toa, cada tornozeleira eletrônica, cada prisão de general, cada tarifaço de Trump serve de combustível para o delírio do revide — e o resultado é esse: o bordão virou liturgia de formatura, a violência virou ritual.

E tudo isso acontece no exato momento em que o preceptor político de Riedel, o ex-governador Reinaldo Azambuja, surfa a onda viral de sua entrevista de rádio em Campo Grande, anunciando a troca do ninho tucano pelo cercadinho bolsonarista. Em tom de galo de briga Azambuja desanca Lula — acusando-o de bravateiro —, alfineta Alexandre de Moraes e se apresenta como porta-voz do ressentimento seletivo da direita sul-mato-grossense. Promete que, a partir de 2027, quando chegar ao Senado, as coisas vão ser como em Maracaju, seu reduto eleitoral: linguiça neles. Coincidência ou não, a tropa que cancela CPF e o cacique que empunha o punhal verde-amarelo parecem cantar afinados o mesmo coro.

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