Foi como o primeiro sutiã de uma adolescente no antológico vídeo do Washington Olivetto: “a gente junca esquece”. Nem quem viu, nem quem compartilhou, nem quem tentou calar. O corte viral do insubordinado jornalista do Jaguapiru — com mais de um milhão de visualizações, 78 mil curtidas, 10 mil comentários, 43 mil compartilhamentos e repostagens, inclusive com o dedinho da Xuxa Meneghel apertando o coraçãozinho — consagrou-se como um marco não só pessoal, mas coletivo, no jornalismo de combate.
Se me permite a faceirice, registro aqui, com a devida pompa, que a partir de agora compartilho o pódio digital de Dourados com o único conterrâneo que já vive há tempos nesse patamar de fama genuinamente orgânica: Alfredinho, o pet do grupo Comadre Maria, que sem microfone, sem texto e sem processos judiciais, virou celebridade nacional apenas com charme, simpatia e coleira fashion. Um pela palavra, o outro pelo latido, ambos com audiência real — de verdade — conquistada sem verba pública, sem impulsionamento e sem amarras. E se até ontem me mediam pela coleção de processos, agora podem conferir também as métricas de engajamento. Porque este foi meu primeiro corte viral. E, como o sutiã da guriazinha de Olivetto, ninguém vai esquecer.
Durante anos, disseram que eu — talvez pela autodenominação de escrevinhador de cafundós de Judas — era um eco do passado. Um cronista de beira de estrada. Um escriba jurássico, perdido num tempo de algoritmos e influenciadores pagos. Riram da minha insistência em digitar manchetes na unha, da minha mania de cutucar os poderosos, da minha fé teimosa na palavra escrita como arma de combate.
E eu? Eu respondia com ironia e perseverança. Porque sempre acreditei que a verdade, mesmo pisoteada, mesmo calada a mando de desembargador, mesmo censurada por governador metido a grileiro de verba pública, acaba escapando pelas frestas – e quando escapa, explode.
Explodiu.
Explodiu num corte. Num mísero corte de podcast. Uma conversa despretensiosa com o José Mauro Quijada, no estúdio improvisado que mais parece barbearia do subúrbio do pensamento. Lá, entre um gole e uma gargalhada, falei como sempre falo: direto, sarcástico, sem “tp” e sem pedir bênção nem licença.
E a internet fez o que ela faz de melhor quando topa com algo verdadeiro: reverberou.
O que era para ser só mais um trecho virou tempestade. Repito: um milhão de visualizações. Setenta e oito mil curtidas. Dez mil comentários. Quarenta e três mil compartilhamentos e repostagens. E, como se não bastasse, a bênção pagã e dourada da mais notável estrela global de todos os tempos — ela mesmo, Xuxa Meneghel, que também apertou o coraçãozinho com a autoridade de quem já reinou em três gerações.
Nada disso foi impulsionado. Nenhum centavo saiu do bolso. Nenhum assessor pagou por tráfego. Nenhum coronel do agro patrocinou. Foi espontâneo, orgânico, cru. Foi o povo clicando, comentando, passando adiante. Foi a verdade reencontrando seu caminho, sem precisar de cabresto.
Durante muito tempo, quando me perguntavam sobre audiência, eu mostrava minha outra métrica: a dos os processos. São dezenas. De prefeitos, deputados, senadores, governadores. Uns pedindo indenização, outros exigindo retratação. E um, emblemático: a censura imposta por Reinaldo Azambuja ao ContrapontoMS, por conta da postagem “Governo Azambuja começa atolado na lama asfáltica”. O caso, como um retrato da covardia institucional, segue há anos empacado no Supremo Tribunal Federal — prova de que, para alguns, calar a imprensa vale mais do que enfrentá-la com argumentos.
Agora, posso sacar outra coisa da capanga. Os números. O alcance. As provas vivas de que minha voz, por mais rouca, segue ressoando. E que esse jornalismo sem verniz, sem coleira e sem grandes patrocinadores, ainda fura bolha, atravessa algoritmo, incomoda gabinete e chega onde precisa chegar: no povo.
Mesmo em meio a mais de dez mil comentários — número que sozinho já derrubaria qualquer tese de irrelevância —, o que mais impressiona não é a quantidade, mas o tom. Em leitura amostral, feita à unha e à luz da madrugada, constatei que cerca de 90% das manifestações foram de aprovação à fala que tanta gente tentou desqualificar: a de que o bolsonarismo não é uma ideologia política — é uma moléstia grave, coletiva, contagiosa e profundamente destrutiva ao tecido democrático. Não vieram só curtidas vazias: vieram desabafos, confissões, ecos de um Brasil sufocado. Foi como abrir uma janela num porão abafado. O corte viral, nesse sentido, não foi apenas um sucesso de audiência. Foi um diagnóstico coletivo. Uma febre revelando a infecção.
Este corte não é um pico de vaidade, é um divisor de águas. É o momento em que o jornalismo de trincheira do ContrapontoMS deixa de ser sussurro e vira grito amplificado. É a constatação de que ainda há espaço para a palavra que arde, para a opinião que não pede desculpas, para o repórter que não se curva.
É também uma homenagem aos que me seguem, aos que me leem (meus caros seguidores, minhas caríssimas e perfumadas seguidoras), aos que me odeiam mas não resistem a clicar. E um aviso aos que ainda conspiram pela minha mudez: não deu certo. O corte que vocês não puderam impedir virou cicatriz exposta. E o velho jornalista que vocês tentaram silenciar agora também é viral.
Com a bênção da rainha dos baixinhos.
E com a força da saracura que canta alto no amanhecer dos justos.
