Houve um tempo em que Mato Grosso do Sul se fazia ouvir em Brasília pela firmeza de caráter e pelo peso das ideias. Era a época de Antônio Carlos Nantes de Oliveira, Sérgio Cruz, Plínio Barbosa Martins, Zeca do PT e dos douradenses João Totó Câmara, Ivo Cersósimo, José Elias Moreira, Waldir Guerra, João Grandão, Marçal Filho e George Takimoto. Gente que subia à tribuna para defender o Estado, não para posar para selfie com facínora ou segurar o palanque de seitas políticas. Nos últimos anos, a lista de nomes que salvam a honra da bancada cabe em uma mão — e, convenhamos, sobram dedos. Um deles é Geraldo Resende.
O resto… bom, o resto anda escrevendo seu nome na ata de ocorrências do golpismo explícito. Como Rodolfo Nogueira, que colocou seu mandato à disposição exclusiva da família Bolsonaro e, de brinde, ganhou a função de “guardião da tornozeleira” do chefe. Ou Marcos Polon, que tentou justificar a invasão da presidência da Câmara alegando ser autista — recurso tão patético quanto inútil para escapar da punição. Entre um gesto teatral e outro, ambos parecem cumprir com zelo aquele papel folclórico de animar o cortejo e manter o público distraído, enquanto o “rei” desfruta, por ora, de sua clausura na “humilde residência” — não a do refrão de Michel Teló, mas a versão candanga, no Distrito Federal — até o dia em que atravessar o Eixo Monumental para uma temporada que pode ser longa, no presídio da Papuda.

No pacote da vergonha entra também a petista Camila Jara, que resolveu atingir Nikolas Ferreira nas partes baixas, contribuindo para transformar o plenário num espetáculo digno de auditório de video-cassetadas, e não de uma casa legislativa.
Se tivessem lido — ou pedido para alguém ler para eles — o editorial do Estadão da semana passada, talvez entendessem que o que fizeram não foi “obstrução”, mas sequestro das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, afronta à Constituição e tentativa explícita de golpe. Não se tratou de política, mas de delinquência. E pior: de dentro da própria instituição que deveriam honrar.
O jornal, fiel à sua sobriedade centenária, foi cirúrgico: não se negocia com delinquentes, a democracia não se ajoelha. Hugo Motta e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara e do Senado, falharam miseravelmente ao permitir que uma súcia de parlamentares paralisasse o Legislativo por mais de 30 horas. Ulysses Guimarães, lembrado pelo Estadão, não teria hesitado em acionar a Polícia Legislativa no primeiro minuto.
O recado é simples e direto: ou punem exemplarmente os radicais bolsonaristas, enterrando qualquer anistia a Bolsonaro e seus cúmplices, ou estarão assinando o aval para que a tática bandida se repita. Porque, num país sério, o que se viu não é “normal” nem “aceitável”. É golpe, é crime, é uma afronta às instituições.
Resta saber se a bancada do MS, com seus “Bobos da Corte” bolsonarista tão animados para posar no palco da desordem, terá a mesma disposição para votar pela punição dos envolvidos. Ou se vai continuar cultivando o triste protagonismo de quem confunde mandato popular com crachá de acesso ao clube fechado do bolsonarismo.
