O que seria do bolsonarismo sem a sua besta do Apocalipse? Talvez não passasse de um culto órfão, com fiéis vagando como zumbis no deserto eleitoral, sem saber a quem entregar seu dízimo e seu voto. Agora, com Bolsonaro recolhido à sua “humilde residência” — essa estação de embarque para a Papuda — sobra no picadeiro apenas o herege Silas Malafaia, tentado a continuar reunindo “milhões” na Paulista para louvar o “mito” ausente.
Mas os atos “antidemocráticos” já perderam o glamour: sem a presença física do Messias, o fervor das bandeiras desbota. Bom seria que o herege Malafaia também se recolhesse — se não numa cela ao lado do mito, ao menos num retiro espiritual com jejum de holofotes. Para completar o cenário, poderíamos convocar o gordinho do Bolsonaro Rodolfo Nogueira, esse coroinha agora acumulando a função de “guardião de tornozeleira” e sua devota Gianni, para incluírem nas preces não apenas o ídolo, mas também o “bom pastor” que agora flerta perigosamente com o fogo dos infernos que tanto gosta de anunciar aos incrédulos progressistas.
E, caso as preces não “colem”, que Malafaia volte à Bíblia — mas sem pular os trechos incômodos. Que comece pelo Eclesiastes 10, sobre “A excelência da sabedoria”, e reflita: onde foi parar a sua, pastor, desde que trocou os ensinamentos de Jesus por um “mito” terreno com CPF e ficha corrida?
Porque, como lembra o inquérito relatado nesta sexta-feira pela BBC News Brasil, a PF investiga Malafaia por obstrução de Justiça, coação no curso do processo, organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e até busca por sanções internacionais contra o Brasil — no mesmo processo que envolve Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo. Foi justamente por ter organizado o ato de 3 de agosto, transmitindo o “mito” pelas redes apesar da proibição do STF, que o ex-presidente foi parar na prisão domiciliar no dia seguinte. Difícil seguir posando de profeta quando o Apocalipse começa a se cumprir… mas na sua própria ficha criminal.
