Enquanto Donald Trump ameaça o Brasil com tarifas dignas de guerra comercial e chega a insinuar que pode até questionar a legitimidade das eleições de 2026, Porto Murtinho, lá no coração do Pantanal, ergue sua nova Orla do Rio Paraguai. Um investimento de R$ 5 milhões que, além de pista de caminhada e bar à beira-rio, simboliza algo maior: a tentativa de deixar de ser “fim de linha” para se tornar porta de saída rumo ao Pacífico.
Na prática, a obra é simples — iluminação, calçadas e um platô de 600 metros quadrados às margens do rio. Mas no tabuleiro da geopolítica, significa bem mais: é o primeiro passo de uma cidade de 17 mil habitantes para virar vitrine da Rota Bioceânica, corredor que pode livrar o Brasil do eterno catecismo comercial em Washington.
Trump de lá, Pantanal de cá
Trump repete a velha cartilha: usa tarifa e chantagem como chicote. Só que, desta vez, a resposta pode vir pelo caminho das águas pantaneiras. De Porto Murtinho ao Chile, passando por Paraguai e Argentina, a rota abre uma estrada alternativa até os portos do Pacífico — de onde soja, carne e minério podem chegar à Ásia sem pedir bênção à Casa Branca.

Enquanto isso, no Brasil, o bolsonarismo bate palmas para Trump, mesmo que a conta caia direto no prato do produtor rural, aquele mesmo que posou de patriota em Brasília e agora descobre que o “Mito” não paga tarifa.
De cartão postal a rota de fuga
Segundo o superintendente da SPU-MS, Tiago Botelho, a determinação do presidente Lula é clara: transformar Porto Murtinho em destino de permanência, não apenas de passagem. Já o prefeito Nelson Cintra sonha alto: “A Orla vai virar cartão postal, movimentar a economia e realizar um sonho antigo da cidade”.
Sonho antigo, diga-se, que os profetas do atraso — aqueles mesmos que duvidam até hoje da transposição do São Francisco e juram que a rota bioceânica é “miragem de político” — insistiam em ridicularizar. Pois agora, com obra no chão e asfalto chegando, fica difícil seguir chamando de miragem.
Entre o bar da orla e a geopolítica
A previsão é de aumento de 35% no turismo logo nos dois primeiros anos após a inauguração. Mas a matemática mais interessante não está no número de visitantes, e sim na equação política: se Trump fecha a porta, Porto Murtinho abre a janela.
E o Pantanal, que já foi cantado em samba-enredo e vendido em cartões-postais exóticos, agora pode ser lembrado por algo mais prático: a ousadia de construir sua própria rota, sem pedir carona ao império nem rezar no cercadinho.
