Estamos indo em direção ao outono. Exatamente no final do mês, no dia 22 de setembro, ele começa. Chega trazendo as belas cores da estação e, no domingo, 26 de outubro, atrasaremos os relógios — ganharemos uma hora de sono! A partir daí, estaremos definitivamente mergulhados no outono.
As temperaturas já começaram a baixar: ficam entre 15 e 20 °C, alguns dias até menos. Gosto dessa estação do ano. Não pelo anúncio do fim do verão, mas pelas cores que ela nos traz: amarelo dourado, vermelho, tons de marrom. Um verdadeiro carnaval de cores e alegria.
O triste é perder claridade, ver o dia diminuir aos poucos, gota a gota, minuto a minuto. Até chegar ao mais curto do ano, em 21 de dezembro, no solstício de inverno. Em Paris, por exemplo, o sol nascerá por volta das 08h44 e se porá em torno das 16h57 — apenas 8h13 de luz natural! Quando o cinza não engole a luz… A partir do dia seguinte, os dias voltarão a se alongar, nas idas e vindas do tempo. Ou melhor, no girar da Terra.
Mas fora os pontos negativos, são muitos os aspectos positivos: uma vida cultural intensa na cidade, com novas exposições, novas temporadas teatrais e musicais, além de uma infinidade de outras atividades.
Ao lado da vida cultural, estão as atividades ao ar livre para apreciar as cores com passeios em parques e jardins — o Jardin du Luxembourg, o Parc Monceau, o Bois de Vincennes e o Bois de Boulogne são alguns deles dentro da cidade. Sem falar na caça aos cogumelos — cèpes (boletos), muito valorizados na culinária francesa; girolles (chanterelles ou amarelinhas); pied-de-mouton (dente-de-leão); coulemelles (parasols) — e também das castanhas, tradição que tem muitos adeptos e especialistas.
O outono é igualmente a época das colheitas de uvas para a produção dos vinhos, coroada pela festa do Beaujolais Nouveau, que em geral acontece na terceira quinta-feira de novembro — neste ano, no dia 20.
A mesa também muda: vários tipos de moranga entram no cardápio, assim como as sopas. Nas ruas, surgem os vendedores de castanhas assadas (marrons chauds). E, num piscar de olhos, chegaremos ao frio invernal.
Mudanças, mudanças… às quais os franceses estão acostumados — e que, quando vivem no Brasil, sentem falta.
- Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.
