Mais uma vez atravesso o Atlântico para me reencontrar com as terras brasileiras, uma das minhas casas, nesta sexta-feira. Não verei mais meu pai, que descansou: partiu para as estrelas na madrugada de domingo. Guerreiro até o fim, um problema respiratório agravado pela Covid o levou.
A parte alegre é o lançamento da biografia que escrevi — Lucy Citti Ferreira: A pintora esquecida do modernismo — neste sábado, na Patuscada, bar e café da Editora Patuá (R. Luís Murat, 40 – Pinheiros, São Paulo). Depois de falar para os alunos de música da USP, chegarei à minha Glória de Dourados no sábado, 27/09, para conversar com amigos e com o público em geral sobre a nova biografia, em evento na Câmara Municipal, com a participação da CIDECO e da Associação Comercial.
Na segunda-feira, dia 29, às 15h, estarei em Dourados para uma sessão solene na Câmara Municipal, acompanhada de um momento de autógrafos — homenagem proposta pelo vereador Laudir Munaretto.
Depois, será a nossa capital que me acolherá. Terei encontros com alunos de artes da UFMS, às 13h30. Na UEMS, visitarei o acervo dedicado à professora Maria da Glória Sá Rosa antes do encontro com os alunos dos cursos de Letras/Inglês e de ProfLetras, com a mediação da Prof.ª Dr.ª Susylene Dias de Araújo.
Continuarei a missão de trazer Lucy Citti Ferreira à luz em São Paulo, junto a escolas e estudantes, imprensa e todos os espaços onde for possível falar desse trabalho, porque essa pintora precisa — merece — ser “desenterrada”.
Lucy nasceu em São Paulo, em 1911, e morreu em Paris, em 2008. Marcou a história da pintura brasileira nas décadas de 1930 e 1940 e, como tantas outras artistas mulheres, acabou esquecida.
Estudou na Academia de Belas Artes de Paris e, uma vez formada e premiada como pintora, retornou ao Brasil em 1934, aos 23 anos, quando conheceu Mário de Andrade, que a colocou em contato com o pintor Lasar Segall — com quem trabalhou, foi musa e viveu uma história marcante.
Três homens fizeram parte de sua vida: além do pintor Lasar Segall, teve o marido pianista e o padre-poeta que pousou para que ela realizasse nus.
Lucy vivia e respirava arte. Pintura. Como disse Marcelo Mattos Araujo, museólogo, amigo da artista e atualmente diretor do IMS – Instituto Moreira Salles: “A mensagem mais linda, a lição que nos deixa é a paixão pela arte. A sua vida era arte; todas as conversas possíveis com a Lucy eram arte. Dela, do Segall (…). A vida dela era esse espírito da artista moderna que se alimenta, vive para a arte e pela arte.”
A música também fazia parte de seu mundo. Aliás, antes de se decidir pela pintura, ficou indecisa se se entregaria por completo à música ou à pintura. Escolheu a pintura, pois acreditava que nela estaria menos exposta ao público — podia trabalhar sozinha em seu ateliê — enquanto a música a colocaria o tempo todo diante da plateia. Como me disse, era sauvage, selvagem. Mas, após a separação do marido, doou o piano dele para a Capela de Montparnasse e passou a participar das missas, improvisando ao piano.
- Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.
