O Brasil barrou os Estados Unidos da reunião “Democracia Sempre” realizada às margens da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, na semana que vem. Os EUA foram convidados para a reunião do ano passado, idealizada por Brasil e Espanha. Neste ano, no entanto, os americanos não estão entre os cerca de 30 convidados –entre eles, os organizadores Uruguai, Colômbia e Chile, além de Espanha e Brasil— e nações como Alemanha, Canadá, França, México, Noruega, Quênia, Senegal, Timor Leste. Também deve ser chamado um representante da União Europeia, António Guterres, secretário-geral da ONU.
Segundo um funcionário do governo brasileiro, apenas países que são democráticos são chamados ao encontro, e não existem condições de convidar um país que teve uma virada extremista e cujo governo está questionando a democracia e as eleições brasileiras.
A cúpula tem como temas principais democracia, combate à desigualdade e à desinformação. O presidente Lula participou de uma reunião do Democracia Sempre no Chile, em julho. Na conclusão do encontro, os líderes divulgaram um comunicado reafirmando seu compromisso “com a defesa da democracia, o multilateralismo, e o trabalho conjunto para abordar as causas estruturais que solapam as instituições democráticas, seus valores e legitimidade”.
A primeira edição, no ano passado, organizada por Lula e pelo líder espanhol, Pedro Sánchez, foi chamada de “Em defesa da democracia, combatendo o extremismo”. Os EUA, na época governados pelo democrata Joe Biden, enviaram um funcionário de segundo escalão do Departamento de Estado, equivalente ao Itamaraty, para participar.
Sánchez propôs que o encontro fosse o primeiro do tipo para coordenar uma resposta a um fenômeno global reacionário contra a democracia. Ele apontou três fatores que reduzem a confiança da população na democracia: a desigualdade, a desinformação e a propagação do discurso de ódio. .
Um dos primeiros atos do governo Trump foi uma ordem executiva, espécie de decreto, proibindo o combate à desinformação, que o americano classifica de censura. Apesar de criticar o combate a discurso de ódio durante o governo democrata, Trump agora pressiona para que personalidades que criticaram Charlie Kirk, assassinado na semana passada, sejam demitidas. O mais recente exemplo foi Jimmy Kimmel, âncora de um programa na ABC suspenso após comentário sobre o assassino de Kirk.
Em nota enviada junto com o convite para os países participarem da primeira edição do Democracia Sempre, Lula e Sánchez citavam os ataques antidemocráticos de 8 de Janeiro em Brasília e a invasão do Capitólio, a sede do Congresso americano, como símbolos de “movimentos violentos com elementos comuns, como a rejeição da alternância democrática e da diversidade, além da exaltação de uma forma exclusiva de identidade nacional”. No primeiro dia de seu segundo mandato, Trump concedeu perdão a 1500 condenados pelos atos do 6 de janeiro.
Outro tema da cúpula é a regulação das Big Tech. De novo, um tópico que está sob ataque no governo Trump. O presidente americano se opõe à regulação de plataformas de internet e ameaça impor tarifas a blocos como a União Europeia, que baixou legislação que obriga as Big Tech a moderarem conteúdo online e já multou algumas empresas americanas.
Patrícia Campos Mello e Julia Chaib/Folha de S.Paulo
