Três décadas de tucanato não foram suficientes para segurar Reinaldo Azambuja no ninho. O ex-governador, que um dia se orgulhava de ser a ave símbolo da social-democracia resolveu bater asas rumo a um poleiro mais barulhento: o Partido Liberal, sigla que virou condomínio do bolsonarismo. Oficializou a troca neste domingo, como quem vai à missa das onze, pedindo bênção ao padre Valdemar da Costa Neto e carregando no bolso a senha de Bolsonaro.
A cena foi típica da província tropical: Tereza Cristina, ex-ministra e senadora, pregando unidade da direita como se estivesse costurando uma colcha de retalhos já puída; Valdemar, com seu ar de dono de cartório, celebrando o reforço como a “maior aquisição” que Bolsonaro já fez; e Riedel, garantindo que tudo isso é “mudança efetiva de união pela direita”.
Azambuja, fiel ao estilo mineiro de Maracaju — onde o silêncio sempre falou mais alto que o discurso — resumiu a jogada em duas linhas: gratidão ao passado tucano e desafio pelo futuro liberal. A tradução é simples: a senha do poder mudou, e quem quiser continuar jogando precisa atualizar o cadastro biométrico.
O arco de alianças? Uma babel de siglas que vai do PP ao Republicanos, passando pelo MDB pantaneiro — esse, bem diferente do resto do país, porque aqui sempre preferiu abraçar a direita do que disputar espaço no centro. André Puccinelli, claro, não perdeu a chance de lembrar que já deu suporte lá atrás, como quem cobra juros de uma dívida antiga.
No fundo, o movimento não surpreende. Azambuja já vinha ensaiando passos fora do tucanato desde que percebeu que o PSDB virou peça de museu, relíquia empoeirada sem dono nem rumo. O PL, por mais contraditório que seja, oferece palco, estrutura e, sobretudo, a bênção de Bolsonaro, que ainda é moeda forte na planície pantaneira.
E assim, o ex-governador que se elegeu prometendo modernidade, que segurou Riedel pela mão para não deixá-lo cair na vala comum da insignificância, agora se veste de liberal para tentar manter o bonde andando. O discurso é de “fortalecer a direita contra Lula”. A prática, todos sabemos, é garantir palanque, tempo de TV, prefeitos de interior e o poder de barganha que mantém a roda girando.
Azambuja já foi prefeito de Maracaju, deputado estadual, federal, governador duas vezes. Agora, vira peça-chave de um tabuleiro onde quem mexe as pedras é Bolsonaro em conluio com Valdemar. O que parece desafio, na verdade, é sobrevivência. Afinal, em Mato Grosso do Sul, como no Brasil, quem não se mexe, dança — e o ex-tucano preferiu mudar de galho antes que o ninho desabasse.
