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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Divisão na direita opõe clã Bolsonaro e Centrão e afeta definição para 2026

Eduardo não recua sobre 2026, e Tarcísio sinaliza desânimo com candidatura ao Planalto

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Em meio à estratégia do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em cobrar a presença de Jair Bolsonaro ou de algum familiar na disputa presidencial e da falta de sinalização clara do ex-presidente para 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), passou a sinalizar um recuo na hipótese de concorrer ao Planalto. Eduardo tem ventilado o desejo de concorrer ele mesmo à Presidência, o que vem acirrando ânimos entre partidos do Centrão e da direita. Ontem, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos apoiadores da candidatura de Tarcísio, criticou a “falta de bom senso” em seu campo político e pediu unidade “aqui na centro-direita” e em “seu extremo”.

Após ser alvo de críticas pelo discurso radicalizado do 7 de Setembro e pela articulação em prol da anistia em Brasília, Tarcísio reduziu a exposição pública, reafirmou que planeja disputar a reeleição no estado e passou a repetir nos bastidores a tese do “cansaço”. Para aliados, porém, o recuo é estratégico e visa estancar os ataques — que partem tanto do bolsonarismo como da esquerda.

Segundo um parlamentar do PL que esteve recentemente no Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio está mesmo “de saco cheio” com as pressões que vem recebendo não só de Eduardo, mas também “das vozes conflitantes da direita que veem apenas os próprios interesses”, de forma que deve mesmo mudar de postura e focar nas agendas locais. Ao mesmo tempo, um secretário com gabinete próximo ao do governador vê a mudança de postura como uma estratégia para sair dos holofotes da corrida presidencial e “deixar as coisas correrem naturalmente”. Para ele, o governador “já se desgastou demais com o episódio do tarifaço” e, de agora em diante, vai evitar os debates nacionais e focar em São Paulo.

O governador, que visitará Bolsonaro em Brasília na segunda-feira, afirmou anteontem que concorrerá à reeleição e disse que o ex-presidente “não deu aval nenhum” para que ele concorra ao Planalto. Ontem, fez discurso no mesmo sentido.

— A gente vai apoiar o nome de consenso do grupo e a grande liderança por direito continua sendo do presidente Bolsonaro. Estou com os pés no chão — disse.

Cisão e apelo por união

A indefinição tem gerado atritos entre o “bolsonarismo raiz” e o Centrão. Após cobrar união do campo, Ciro Nogueira, que é presidente do PP, negou que sua fala tenha sido endereçada a Eduardo, mas aliados do deputado reagiram com irritação à fala do senador. O blogueiro Paulo Figueiredo ironizou, em uma rede social, a cobrança de Ciro por união, e escreveu que “tem velhaco que não entendeu” a necessidade de uma “anistia ampla, geral e irrestrita”. Na semana passada, o senador havia admitido votar uma proposta apenas com redução de penas pela tentativa de golpe, mas sem perdoá-las, solução que desagrada a Eduardo e à família.

Ontem, Ciro afirmou que “está passando de todos os limites a falta de bom senso” e que os atritos entre aliados de Bolsonaro iriam “jogar fora” a chance de vitória contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Ou nos unificamos ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez”, disse Ciro em rede social.

Anteontem, Eduardo e Figueiredo se reuniram em Miami com o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), que tem mantido interlocução direta com o ex-presidente durante sua prisão domiciliar. O deputado sinalizou que não pretende recuar da postura bélica adotada desde julho, quando celebrou as tarifas aplicadas pelo governo Donald Trump contra o Brasil.

Eduardo também recusou a hipótese de receber qualquer ajuda financeira do PL, acirrando uma rota de colisão com o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto. Na semana passada, ambos trocaram farpas publicamente após Valdemar declarar que Eduardo iria “matar o pai de vez” caso insistisse em ser candidato à Presidência em 2026 — discurso que o parlamentar manteve nos últimos dias, alegando ser uma alternativa caso o pai siga inelegível. Segundo interlocutores, os ataques entre Valdemar e Eduardo desagrada Bolsonaro, que não se contrapõe às movimentações do filho nos Estados Unidos.

A possibilidade de um recuo de Tarcísio e a insistência de Eduardo em figurar na empreitada presidencial, no entanto, podem fragmentar o campo de aliados de Bolsonaro. O secretário de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab, afirmou que tem ouvido de Tarcísio que ele poderá ser candidato à reeleição, e diz que seu partido apoiará qualquer situação. O presidente do PSD tem na manga a possibilidade de ver Ratinho Júnior ocupar o posto de presidenciável no caso de uma desistência de Tarcísio.

— Tarcísio tem todas as condições para ser um bom candidato à Presidência da República, um bom presidente. E, se for candidato, terá o nosso apoio. Da nossa parte, tem o nosso respeito, qualquer que seja a sua decisão, estaremos com ele. Mas ele também tem as suas circunstâncias, os seus compromissos com o estado de São Paulo, seu plano de governo — disse Kassab. — O PSD felizmente tem seu rumo. Nosso rumo é com o governador Tarcísio, com o governador Ratinho (do Paraná), ou com o governador (do Rio Grande do Sul) Eduardo Leite. Isso está pacificado.

No início da semana, Tarcísio já havia comentado, em um evento promovido por empresários e operadores do mercado financeiro, que o time da direita “parece estar desorganizado”, mas que chegaria “forte” à eleição de 2026. Na ocasião, Tarcísio estava acompanhado pelo governador de Minas, Romeu Zema (Novo), outro presidenciável. Zema indicou que ele e outros governadores de direita, como Tarcísio, Ratinho e Ronaldo Caiado (União), de Goiás, se uniriam em um eventual segundo turno.

A movimentação, no entanto, passa ao largo de Eduardo, que tem externado incômodo com a articulação entre os governadores. Anteontem, por exemplo, o deputado criticou posicionamentos desses chefes de Executivos estaduais sobre a PEC da Blindagem. O filho de Bolsonaro argumentou que a proposta, enterrada pelo Senado, poderia livrar parlamentares de supostas “amarras e ameaças” do Judiciário. Os quatro governadores, porém, criticaram o texto.

Pedidos de continuidade

Em paralelo, secretários e aliados de Tarcísio tentam convencê-lo a apostar na reeleição e intensificam uma campanha pelo “fico” do governador. Um deles enumera uma série de ações e obras que só dariam retorno em um eventual segundo mandato, como o término do Rodoanel e linhas de metrô.

Outro secretário que também é entusiasta da reeleição afirma que as falas duras contra o Supremo no 7 de Setembro saíram do “tom habitual” de Tarcísio e o fizeram “recalcular a rota” para considerar que uma reeleição “mais tranquila” seria a via natural das coisas. Dessa forma, o governador teria mais quatro anos para preparar o caminho ao Planalto, além do fato de “não precisar mais ficar tão dependente do bolsonarismo”. Para ele, porém, a “bolsa de apostas continua favorável à corrida presidencial”, mas os patamares não são os mesmos de antes do 7 de Setembro.

Sérgio Quintella, Luísa Marzullo, Luiz Felipe Azevedo e Bernardo Mello/O Globo

Como cada partido tem se posicionado:

  • PL: O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, reforça o discurso de “Bolsonaro candidato”, mas já abriu as portas do partido para Tarcísio. Nas últimas semanas, trocou insultos com Eduardo sobre 2026.
  • PP: Ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira é uma das vozes do Centrão entusiastas da candidatura de Tarcísio de Freitas. Ontem, criticou a fragmentação da direita, gerando reações de aliados de Eduardo.
  • PSD: Secretário de Tarcísio, Gilberto Kassab mantém apoio ao governador, mas trabalha com nomes do partido como opções ao Planalto, principalmente Ratinho Júnior (PR). Este ano, filiou Eduardo Leite.
  • Republicanos: No mês passado, o presidente da sigla, Marcos Pereira, fez o primeiro aceno público sobre Tarcísio concorrer à Presidência. Ele também tem resistido às investidas do PL para manter o governador.

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