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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Japorã e as creches da reparação histórica

Em Japorã, duas creches indígenas simbolizam mais que alvenaria: são tijolos de reparação histórica para os Guarani e Kaiowá

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Demorou quase 500 anos para que a União “descobrisse” que o patrimônio público pode servir às crianças indígenas de Japorã. E foi preciso a parceria de uma estatal de fronteira, a Itaipu Binacional, para que o óbvio se fizesse: garantir às aldeias Guarani e Kaiowá o direito à primeira infância. Que essa pedra fundamental não seja apenas mais uma foto em solenidade, mas o início de uma reparação histórica.

Foi exatamente isso que se celebrou na Aldeia Porto Lindo. Em cerimônia oficial, a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) assinou o termo de cessão de uma área federal para a Prefeitura de Japorã, que construirá, em parceria com o Incra e a Itaipu, duas creches indígenas nas comunidades Yvy Katu e Porto Lindo.

O investimento será de R$ 5,1 milhões, com recursos da Itaipu, beneficiando mais de 300 crianças. Estruturas modernas, espaços de convivência, acessibilidade e ensino bilíngue farão parte da proposta — sem apagar a língua guarani, mas somando ao português, no esforço de integrar conhecimento e tradição.

O superintendente da SPU em Mato Grosso do Sul, Tiago Botelho, não economizou no simbolismo: “O patrimônio público deve servir ao povo. Repassar uma área da União para abrigar creches indígenas é garantir reparação histórica e justiça social.”

Paulo Roberto, do INCRA, reforçou o valor da integração entre os órgãos: “É um exemplo concreto de como a união institucional pode transformar políticas em realidade.”

O prefeito de Japorã, Malaquias, celebrou o momento histórico: “Essas creches representam um investimento no futuro e um gesto de respeito aos povos indígenas.”

Mas talvez a fala mais contundente tenha vindo de dentro da própria aldeia. O cacique Onezio lembrou o longo caminho de mobilização até chegar a este ponto: “Foram muitos anos de luta, reuniões e esperança. Hoje, ver essa assinatura acontecer aqui na aldeia é motivo de alegria.”

As obras começam ainda neste ano, com previsão de conclusão em 2026. Não são apenas duas creches. São símbolos de resistência cultural e de futuro. Em Japorã, os tijolos da infância começam a erguer um país que, quem sabe, um dia aprenderá a ouvir antes de prometer.

ContrapontoMS, com informações da SPU

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