Meu leitor assíduo e atento, o ex-vereador, médico Luiz Machado (primo do velho cacique Londres Machado), depois de ler sobre Gerson Claro ajoelhado no milho para garantir o direito de aparecer no santinho de Eduardo Riedel ao lado de Reinaldo Azambuja, lançou a pergunta que ecoa como sentença: “será que resta esperança?”
Pergunta justa, num cenário em que a disputa por cadeiras no Senado em 2026 reúne mais fichas corridas que a delegacia central de Campo Grande numa sexta-feira à noite. Como acreditar que desse tabuleiro de penitentes, caixeiros de emendas e coronéis enroscados na Justiça possa emergir algo que se pareça com futuro?
É aqui que a mitologia grega vem em socorro da crônica. Conta-se que Pandora, a primeira mulher moldada por Hefesto a mando de Zeus, recebeu de presente uma caixa (ou jarro, na versão mais fiel) que jamais deveria ser aberta. Movida pela curiosidade — essa força eterna que governa tanto os deuses quanto os mortais —, Pandora levantou a tampa e deixou escapar todos os males do mundo: doenças, fome, guerra, corrupção, traição. Só uma coisa permaneceu presa no fundo da caixa: a esperança.
O filósofo Luc Ferry, em Mitologia e Filosofia, que o insubordinado do jornalismo do MS está acabando de ler, observa que essa sobrevivência da esperança tem duplo sentido. Para uns, é consolo: diante dos males, restou o alento de acreditar em dias melhores. Para outros, é maldição: esperança seria a ilusão que nos faz suportar a miséria sem jamais romper com ela.
Transposto ao nosso Mato Grosso do Sul, a analogia não carece de manual. Quando o eleitor olha para a Caixa de Pandora da política estadual e enxerga nela Azambuja, com sua capivara cochilando no STJ, Nelsinho Trad às voltas com calotes e o GISA, Barbosinha tentando se segurar na cadeira de vice-governador enquanto Gerson Claro dobra o joelho no milho, pode se perguntar: o que sobrou?
Resta-nos a esperança, diria Pandora. Mas de qual tipo? A esperança que consola, nos levando a crer que, apesar da ficha corrida dos candidatos, ainda pode brotar um nome digno no plenário azul? Ou a esperança enganosa, que mantém o povo ajoelhado, não no milho, mas na ilusão de que o próximo “santinho” trará redenção?
Eis o dilema. A Caixa de Pandora da política sul-mato-grossense continua aberta, despejando sobre o eleitorado seus males conhecidos: fisiologismo, coronelismo, carreirismo, marketing embalado em penitência. No fundo dela, talvez, ainda reste a esperança. Se será consolo ou maldição, só o voto dirá.
