Nunca antes na história da terra de Seu Marcelino — essa Dourados que insiste em sonhar com um governador ou um senador nascido de seu próprio barro — o quadro político representativo nas esferas estadual e federal esteve tão desolador. Se persistir esse devaneio coletivo, talvez só com uma intervenção divina de Ari Valdecir Artuzi, ressuscitado dos infernos políticos, ou, quem sabe, lá do além, delegando seus poderes de “animal de pelo curto” — vulgo “burro”, segundo André Puccinelli — à vereadora Isa “Cavala” Marcondes. Sim, ela mesma, a campeã de votos no Jaguaribe, que já “confidenciou” ao ContrapontoMS seu desejo nada modesto de ser senadora da República. E, convenhamos, se alguém tem fôlego para bater de frente com o “já eleito” Reinaldo Azambuja e, por osmose, com o candidato ao segundo voto pelo establishment, é essa mulher de currículo mais explosivo que os discursos da turma do famigerado do Centrão.
Além de fenômeno eleitoral, Isa Marcondes guarda uma coincidência profissional com a senadora douradense de nascimento Soraya Thronicke — aquela mesma que chegou ao Senado de carona na enxurrada que levou o “mito” Jair Bolsonaro à Presidência. Ora bolas, se uma dona de motel pode se eleger senadora, por que uma dona de bordel não pode? Negócios afins, digamos assim. Afinal, a matéria-prima que abastece o ramo de Soraya sempre foi providenciada, com zelo e eficiência, pelos empreendimentos similares ao de Isa. Elementar, meu caro Watson — diria o detetive Sherlock Holmes, se tivesse o prazer de investigar os bastidores da política do Mato Grosso do Sul.
E não é que faz sentido? Com todas as patifarias legislativas patrocinadas pelo famigerado Centrão, o outrora reverenciado Senado da República virou, sim, uma grande zona. E quem foi mesmo que se elegeu a vereadora em Dourados com o bordão “Dourados está uma zona — e de zona eu entendo”? Pois é. O destino, às vezes, tem um senso de humor perverso.
Não por acaso, Isa Marcondes agora desfila pelo Estado a bordo de uma van transformada em gabinete itinerante — mais luxuosa que gabinetes de prefeitos, governadores e até alguns gabinetes da ala azul do Congresso Nacional. Tão confortável que, dizem, ela lamenta não ter tido essa ideia antes. Poderia ter sido, quem sabe, um motel ambulante, o que certamente colocaria a empreendedora em vantagem competitiva contra sua hoje parceira política Soraya Thronicke.
Mas o que realmente chama a atenção — e dá sentido a este textão, com lead invertido só para contrariar a amiga jornalista Maria Gorety Dal Bosco, com quem pretendo tomar umas Heinekens semana que vem em João Pessoa-PB — é a origem da verba usada na compra do tal gabinete itinerante. As más línguas sussurram que o investimento teria vindo de um prócer político estadual, daqueles com assento cativo na Assembleia Legislativa. Se for verdade, é no mínimo curioso: quem, em sã consciência, entrega um instrumento de marketing desse calibre a uma potencial adversária?
Como o tabuleiro eleitoral de 2026 para a Câmara Federal está mais disputado que rodízio de pizza grátis em véspera de eleição, difícil imaginar Isa medindo forças com pesos-pesados locais como Rodolfo Nogueira (o “gordinho do Bolsonaro”), Geraldo Resende (a caminho do sétimo mandato) e o petista Tiago Botelho, amigo do Lula — isso só falando dos de Dourados.
Mas quem disse que coerência e política já andaram juntas por essas bandas? No ritmo que as coisas vão, não duvide: Dourados pode, sim, ter uma senadora dona de bordel. Afinal, se o Senado virou zona, por conta do Centrão e de outras aberrações com assento por lá, nada mais justo do que eleger alguém que entenda do assunto.
Entre a van e o plenário, entre o bordel da Cavala e a “Corte” de Brasília, Dourados continua exportando personagens para uma série que o Brasil não pediu, mas merece assistir — com pipoca, sarcasmo e vergonha alheia servidos à vontade.
