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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Tiago Botelho entra na fila do DNA, como candidato a pai do curso de Medicina da UEMS

Entre maternidades políticas e filhos de conveniência, o curso de Medicina da UEMS nem nasceu e já tem supostos pais — e Dourados confirma sua vocação para transformar cada ideia em novela de DNA

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Bastou o ContrapontoMS tentar fazer justiça ao maior ícone da medicina douradense, o doutor George Takimoto, sugerindo seu nome para o futuro Hospital Regional de Dourados, para o ambiente ficar mais inflamado que sala de parto em apagão. O recém-inaugurado nosocômio (alas, La Torraca!), ainda com cheiro de tinta e batizado de Policlínica Regional, virou campo de batalha sem anestesia. Ora bolas, se há uma mãe biológica, Olga Castoldi Parizotto, a matriarca da família que doou a área, precisa haver um pai para o hospital, propriamente dito. E o nome de Takimoto veio à mesa, como quem busca herdeiro legítimo pra um rebento que acaba de vir ao mundo.

Menos mal que o governador Eduardo Riedel, com toda a lucidez que lhe é peculiar, colocou os pingos nos is: “Sem Takimoto, isto aqui não seria possível.” Disse de pronto, carimbando a certidão de paternidade moral de Takimoto. Em tempo, fazendo um reparo, a pedido do cerimonial, ele até foi procurado para receber o convite em mãos, mas não foi achado. Da mesma forma como contei no texto anterior, na história do aniversário dele quando vice-prefeito de Luiz Antônio Álvares Gonçalves.

Mas política é ciumenta. O deputado Geraldo Resende, acostumado a medir sua importância em milhões trazidos de Brasília, não quis deixar barato: “Vou dar a ideia de um metrô. Assim passo pra história como pai do trem”, ironizou, com aquele sotaque mineiro quando adora se fazer de modesto pra disfarçar ambição, no que o insubordinado aqui lembrou que o professor Wilson Biasotto já havia lançado proposta parecida, a do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) entre a cidade e a UFGD. Ou seja: até o futuro trem douradense já tem pai reconhecido em cartório.

Nem bem esfriou a polêmica hospitalar, e já começa outra — o que mostra que Dourados virou uma maternidade de ideias órfãs. Agora, o assunto é o curso de Medicina da UEMS, que ainda é só um projeto, mas já desperta paixões, ciúmes e pretensões de DNA político.
A deputada Lia Nogueira, em tom de parto prematuro, subiu à tribuna da Assembleia Legislativa para reivindicar: “Queremos uma faculdade de Medicina da UEMS, mesmo que seja vizinha da já consolidada da UFGD.” A proposta soa bonita — e tem cheiro de aplauso fácil.

Mas antes mesmo que o ultrassom institucional mostrasse o formato do embrião, eis que aparece um novo pretendente à paternidade: o professor Tiago Botelho, da própria UFGD. Batendo no peito como amigo do Lula, sempre com verbo lapidado, aproveitou a presença da ministra Simone Tebet e do governador Eduardo Riedel, durante a inauguração da Policlínica, pra fazer o pedido público: “A criação do curso de Medicina da UEMS em Dourados.” E não parou por aí. Em tom de atestado pré-nupcial, defendeu que a UEMS — sua “vizinha de cerca” — nasceu pra interiorizar o ensino, mas já tem estrutura e missão para mais esse passo. Fez o discurso como quem oferece parceria amorosa entre universidades: a UFGD com a experiência e a UEMS com o ventre fértil.

A ministra Simone Tebet, cúmplice do enredo, endossou o pedido, dizendo que a proposta poderia integrar seu projeto de governo num eventual novo mandato de Lula. Pronto. Bastou o “sim” de Simone pra que o curso ainda nem gestado passasse a ser considerado “filho legítimo da República”.

Mas em Dourados, onde cada pedra é marco e cada tijolo tem dono, a história nunca é simples. Se o Hospital Regional já rendeu briga por paternidade, imagine um curso de Medicina da UEMS, com status de símbolo, prestígio e orçamento. A fila de pretendentes ao DNA já dá volta no quarteirão. E o curioso é que o professor Botelho, homem da UFGD, reivindica paternidade em nome da UEMS, como quem pede guarda compartilhada de uma criança ainda por nascer.

No fundo, todos têm parte no sonho — e, claro, no capital simbólico que ele representa. Mas, como diria o sapo cururu, do saudoso colunista Cícero Faria, em Dourados a vaidade é genérica: o que importa não é gerar o filho, é garantir o sobrenome na certidão.

O certo é que, se um dia o curso de Medicina da UEMS sair do papel, vai precisar de uma ala especial: a maternidade política de Dourados. Lá estarão Lia Nogueira, Geraldo Resende, Tiago Botelho e quem mais aparecer — todos segurando o berço e disputando o retrato na parede da história. Sem contar suas excelências, os nobres edis, num plenário onde a presidenta Liandra Brambilla adotou o da “Saúde” como sobrenome, para se eleger por dois mandatos, e, a mais votada, Isa Cavala Marcondes, trombeteando nas mídias sociais da boleia de seu gabinete itinerante instalado numa confortável van que esta bandeira é dela e ninguém tasca.

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