Durante décadas, o nome Itaipu Binacional evocou uma única imagem: a grandiosidade de uma barragem encravada do rio Paraná, erguida sob o peso de regimes autoritários e de uma engenharia que parecia ignorar o humano em nome do megawatt. Muitos ainda acreditam que ao Paraguai coube apenas “emprestar a barranca” — a margem do rio — para a construção da hidrelétrica. Mas a história está mudando. Aos poucos, a binacional deixa o terreno das narrativas geopolíticas do século XX e finca raízes em outro solo: o do desenvolvimento social e da reconstrução de vínculos com as comunidades que vivem em torno de sua energia.
De geradora de energia a força de transformação
Nesta segunda-feira (3), em Foz do Iguaçu, o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio José Verri, recebeu o superintendente do Patrimônio da União em Mato Grosso do Sul, Tiago Resende, para tratar de uma pauta que simboliza esse novo momento da empresa: investimentos sociais e educativos voltados ao interior do Brasil.
Entre os projetos já em andamento no Mato Grosso do Sul estão poços artesianos e casas de reza em aldeias indígenas, como a construção da Casa da Mulher Brasileira em Ponta Porã, apoio à agricultura familiar e capacitação de servidores municipais por meio de cursos de pós-graduação em parceria com a Assomasul.
Mas o anúncio que chamou atenção foi a criação da Escola da Agricultura Familiar e da Agroecologia, uma proposta que promete transformar áreas urbanas da União em laboratórios vivos de sustentabilidade e inclusão.
“Queremos mostrar que o trabalhador sem terra é um produtor, alguém que transforma a realidade. A escola será um espaço de aprendizado, de convivência e de comercialização de produtos agroecológicos no coração das cidades”, explica Tiago Botelho.
A iniciativa prevê cinco unidades-piloto distribuídas pelo estado, com cursos rápidos e gratuitos voltados a acampados e pequenos agricultores. Ali, hortas, viveiros e técnicas de hidroponia serão instrumentos de aprendizado — e também de aproximação entre o campo e a cidade.
A energia que se transforma em sociedade
Para o diretor Enio Verri, o papel da Itaipu vai muito além da energia que ela gera: “Nosso compromisso é transformar essa energia em desenvolvimento humano e social. Nunca se investiu tanto no Mato Grosso do Sul quanto agora, sob o governo do presidente Lula. E queremos ir além.”
O projeto da escola soma-se a uma nova etapa da binacional — menos centrada em megawatts e mais voltada à soberania alimentar, à educação popular e ao desenvolvimento sustentável.
O retorno simbólico da barranca
Se no passado Itaipu simbolizou a divisão do rio e o poder dos governos militares, hoje ela busca reconstruir pontes. Ao apoiar iniciativas como a Escola da Agricultura Familiar e da Agroecologia, a empresa toca em um ponto que por muito tempo ficou à margem: a democratização do desenvolvimento.
Tiago Botelho resume esse novo espírito: “A missão da SPU é abrir portas e transformar ideias em entregas concretas. Com parceiros como a Itaipu, universidades e movimentos sociais, podemos fazer da terra pública um espaço de aprendizado, produção e dignidade.”
Com convênios em fase de formalização entre a SPU, Itaipu, universidades e institutos federais, o Mato Grosso do Sul se prepara para colher frutos de uma energia que, finalmente, volta-se às pessoas — e não apenas às máquinas.
