O governador Eduardo Riedel adentrou novembro com uma cartada típica de quem entende o tempo político: quer garantir R$ 950 milhões em novos investimentos nos municípios sul-mato-grossenses. O projeto, protocolado nesta quarta-feira na Assembleia Legislativa, prevê financiamento com juros de 1,6% ao ano, carência de um ano e prazo de 17 para pagamento — um tipo de crédito que soa quase como luxo em tempos de juros sufocantes. A proposta é assegurar o ritmo das obras e ações que marcam o MS Ativo 1 e 2, programas que já somam mais de R$ 1,1 bilhão investido em infraestrutura e desenvolvimento local nas 79 cidades do Estado. A lógica é simples, mas politicamente eficaz: investir nos municípios é investir no Estado — e manter viva a narrativa de um governo que equilibra gestão fiscal com presença territorial.
A reunião entre Riedel, o presidente da Alems, Gerson Claro, e representantes da Assomasul teve clima de fechamento de ciclo. O governador apresentou o projeto, agradeceu o Legislativo pela parceria e reforçou o discurso da convergência de propósitos. “É importante que a gente mantenha sempre a conversa franca entre Executivo e Legislativo. A convergência de propósito é o que interessa para o Mato Grosso do Sul”, disse, em tom de pacto republicano, mas também de blindagem política para o ano que vem. Claro respondeu no mesmo compasso, destacando o balanço positivo das ações conjuntas e o compromisso com o equilíbrio fiscal. O script institucional correu sem surpresas, mas deixou claro o alinhamento — e, sobretudo, a disposição do governo de manter o protagonismo do discurso da eficiência.
A retórica da austeridade segue sendo a linha de força da gestão Riedel. O governador fala em “defender o equilíbrio fiscal” e “preservar a capacidade de investimento” como se o ajuste fosse virtude de Estado — o que, em parte, é verdade. Mas há também um componente político nessa engenharia: gastar o suficiente para manter o ritmo das obras e mostrar resultados, sem perder o selo de bom pagador. Riedel vem administrando essa equação com habilidade, vendendo prudência e planejamento sem deixar a agenda de investimentos esfriar.
O anúncio dos R$ 950 milhões, portanto, é mais que um número — é um gesto de continuidade. Mostra um governo que quer preservar o clima de prosperidade em meio ao aperto fiscal nacional. Se o dinheiro for bem aplicado — em obras estruturais, digitalização, saneamento, mobilidade — será legado e ativo político. Se se dispersar em projetos inexpressivos, vira mais uma estatística de crédito barato com impacto caro. No fundo, Riedel aposta que o Mato Grosso do Sul ainda tem margem para crescer com método, disciplina e diálogo — uma tríade que, por enquanto, o tem mantido acima da média nacional em estabilidade e previsibilidade.
O pacote milionário é, antes de tudo, uma mensagem. Num país onde os cofres apertam e as promessas rareiam, o governador quer sinalizar que o Mato Grosso do Sul seguirá investindo, mantendo a roda girando e o discurso da eficiência intacto. E convenhamos: num Brasil cansado de gestos improvisados, a aposta no planejamento ainda é um ato político de resistência.
ContrapontoMS, com informações da SECOM-MS
