20.8 C
Dourados
sexta-feira, dezembro 5, 2025

As lições de João Pessoa a Marçal Filho

Entre a faixa e o freio, Dourados tropeça no faniquito de condutores irresponsáveis e esquece a gentileza — enquanto as lições de cidadania ainda engatinham nas boas intenções da Agetran

- Publicidade -

Pé na faixa, pé no freio. É assim, nas cidades civilizadas do Brasil e do mundo. Mas aqui, em Dourados, o costume é outro: o motorista vê o pedestre, calcula a distância e acelera. Se der tempo, passa por cima do bico do sapato; se não der, buzina, gesticula e segue, vitorioso, como se tivesse escapado de uma emboscada.

Há tempos ando encafifado com os absurdos cometidos no trânsito da terra de seu Marcelino. Voltei semana passada de João Pessoa, onde passei dez dias, e confesso: quase causei um acidente — um acidente de civilidade. Bastou uma titubeada na saída de um restaurante, decidindo entre voltar para o flat em que estava hospedado pela areia da praia ou pela calçada do comércio beira-mar, para o motorista de um ônibus frear bruscamente, parando o trânsito inteiro.

E o mais espantoso: ninguém reclamou. Ninguém xingou. Ninguém buzinou. Lá, basta o pedestre lançar um olhar de travessia para que o motorista freie — não por medo de multa, mas por respeito. Por hábito. Por humanidade.

Em Dourados não. Aqui o respeito é opcional, a pressa é regra e a empatia, artigo de luxo. Até a faixa de pedestre parece uma pegadinha. Tente atravessar em locais como o colégio Erasmo Braga, nos horários de saída dos alunos, mesmo na faixa, como manda o figurino: é um exercício de fé. Outro dia, em frente ao ABV Central, só não fui colhido por um desses malucos apressados porque, literalmente, corri pela minha vida.

Coincidência, algoritmos ou não, no mesmo dia em que retornei, li um release esperançoso da prefeitura. A Agetran, em parceria com o Corpo de Bombeiros, levou o programa “Agetran na Escola” ao projeto “Bombeiros do Amanhã”. Bonito nome. Belo propósito. Ensinar às crianças de 9 a 14 anos — de famílias do Cadastro Único — noções de segurança, cidadania e responsabilidade no trânsito. Um gesto nobre.

Tomara que dê certo. Tomara que as crianças aprendam e, mais ainda, ensinem os adultos. Porque os marmanjos que hoje pilotam SUVs, sem respeitar semáforos, limites de velocidade e, até, sobre o piso tátil dos deficientes visuais parecem ter faltado a esse esse tipo de aula — ou talvez, a todas.

Que o prefeito Marçal Filho vá além da boa intenção. Que amplie o programa, que leve essa pedagogia cívica não apenas às escolas, mas às ruas, às calçadas, aos estacionamentos de farmácias, supermercados. Que ponha ordem onde reina a desfaçatez motorizada.

E se educação e empatia não bastarem, que venha a lei. Que ponha os amarelinhos para trabalhar, não apenas nos cruzamentos de maior fluxo de trânsito, que venha a multa, o guincho e, se preciso, até cadeia — para os reincidentes e, principalmente, para os eternos “distraídos” do celular ao volante.

Porque, no trânsito de Dourados, já passou da hora de frear — não o carro, mas a barbárie.

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-