Lealdade foi o fator preponderante na opção que o presidente Lula fez por Jorge Messias para uma cadeira no STF (Supremo Tribunal Federal), vaga aberta com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso. A escolha também serviu de contraponto a um hoje poderoso trio de ministros do Supremo: Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Flávio Dino, fiadores do nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao tribunal.
Pacheco era também o preferido de uma parcela significativa de senadores, especialmente do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
A indicação do advogado-geral para o STF engrossa, portanto, a lista de desgastes do Planalto com seus vizinhos de praça dos Três Poderes, natural para um inquilino de quase três anos. O Senado, aliás, deu recentemente seu recado ao aprovar em votação apertada —a mais apertada desde a redemocratização, diga-se— a recondução de Paulo Gonet para o comando da Procuradoria-Geral da República.
Ao indicar o atual advogado-geral da União para o posto, Lula diz aos outros Poderes que essa definição cabe somente a ele.
Age com pragmatismo, esperando do escolhido segurança em decisões sobre controvérsias que tramitam no Supremo e interessam a seu governo, especialmente na área econômica. E ignora todo um debate público e a pressão de setores da sociedade civil pela indicação de uma mulher para a vaga, dada a baixa representação feminina no tribunal.
O presidente dirá a apoiadores que é preciso reforçar a previsibilidade na corte —que adversários vão chamar de blindagem. Afinal, é véspera de ano eleitoral, um “ano sagrado”, como recentemente se referiu a 2026 ao discursar para uma plateia de apoiadores.
Um evangélico e discreto Messias é descrito como alguém pronto à tarefa que lhe confia o Palácio do Planalto, por combinar perfil técnico-jurídico e alinhamento ao projeto político em vigor no Brasil.
Alinhamento que não vem de hoje. O indicado acumula anos de serviços prestados a gestões petistas. Foi, por exemplo, secretário de Regulação e Supervisão do Ministério da Educação na gestão de Aloizio Mercadante (PT) e, com Mercadante, seguiu para a Casa Civil, onde atuou como assessor e subchefe de assuntos jurídicos no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Sob Lula 3, Messias começou a ganhar terreno ainda no governo de transição, colaborando com aspectos jurídicos sobre o novo desenho da Esplanada dos Ministérios a partir de 2023.
Ao longo daquele ano, somou mais alguns pontos ao liderar a AGU na reação aos ataques do 8 de Janeiro, com uma série de iniciativas judiciais para cobrar dos autores das depredações às sedes dos três Poderes o ressarcimento dos prejuízos causados aos cofres públicos.
No comando da AGU atuou ativamente na defesa de políticas públicas e atos do Executivo. É adepto de um Estado forte, propulsor do desenvolvimento do país.
Contribuições que o cacifaram a figurar já entre os cotados a uma cadeira no STF na vacância anterior (2023), quando prevaleceu Flávio Dino, então um dos principais conselheiros de Lula.
Foi no espaço deixado por Dino que Messias colou no chefe do Executivo e passou a ser presença frequente em reuniões de cunho político na sede do governo central.
Derrotados em sua preferência, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Flávio Dino viam em Pacheco nome de maior expressão política, com habilidade para melhor diálogo institucional entre os Poderes, o tal “jogo de adultos” como o próprio Gilmar afirmou.
Caso seja aprovado após sabatina no Senado, etapa agora menos previsível por não se tratar do “nome” da Casa, Messias será obrigado rapidamente a demonstrar entre os futuros pares capacidade para participar do tal “jogo para adultos”.
Marcelo Rocha/Folha de S. Paulo
