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sexta-feira, dezembro 19, 2025

Quando o ano se despede, no Jaguapiru

Encerramento do Projeto CUIDAR e inauguração do espaço Tekoha Porã celebram a educação, a cultura e o cuidado como caminhos vivos de fortalecimento da comunidade indígena da Jaguapiru

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Não foi só um encerramento de atividades. Foi um dia em que a aldeia Jaguapiru decidiu lembrar — e celebrar. Havia riso solto, brincadeiras correndo entre pernas pequenas, mesas fartas, comida repartida sem contagem e presentes circulando de mão em mão, como quem distribui mais do que objetos: distribui cuidado. Assim o Projeto CUIDAR se despediu de 2024 na maior aldeia indígena urbana do Brasil, do jeito que a aldeia entende o tempo, com presença.

O encontro culminou na inauguração do Espaço de Cultura Indígena Tekoha Porã, casa simbólica de Ñhandeci Floriza e Ñhanderu Jorge, erguida para ser mais do que paredes. O espaço nasce como lugar de língua viva, de canto antigo, de histórias que não cabem em arquivo morto. Ali se ensinam palavras, mas também silêncios. Ali se aprendem músicas, mas também pertencimento. Será ponto de encontro, de celebração, de decisão coletiva. Um espaço onde o passado não é lembrança distante, é ferramenta de futuro.

Nada disso surgiu por acaso. O Tekoha Porã é fruto de 18 meses de trabalho conjunto, de fio puxado com paciência entre o Ministério Público de Mato Grosso do Sul — por meio da 4ª Promotoria de Justiça de Dourados — e o Projeto CUIDAR, da Universidade Federal da Grande Dourados, coordenado pela professora Gicelma Chacarosqui. O MPMS entrou com os materiais; a comunidade entrou com a mão, o saber e o corpo. Como sempre foi.

Na Jaguapiru, construir é verbo coletivo.

O promotor João Linhares Júnior resumiu em palavras institucionais aquilo que o território já sabe há muito tempo: a educação precisa ser prestigiada porque é ela que sustenta o diálogo, a cidadania e a dignidade. Mas ali, naquele dia, a educação não vestia terno. Vestia terra, música, comida partilhada e escuta.

Quando o ano se despede, no Jaguapiru
Lideranças indígenas e acadêmicos, na festa de fim de ano do projeto CUIDAR, na Aldeia Jaguapiru – foto: divulgação

O Projeto CUIDAR não caminha sozinho. Dialoga com outras iniciativas que compreendem educação como transformação real, como o Projeto Educação Digna, Inclusiva e Feliz, criado em 2021, que já atravessou dezenas de escolas públicas em Dourados e distritos, cuidando de infraestrutura, recursos pedagógicos e cidadania. Também se fortalece com parcerias institucionais da UFGD e do IFMS, tecendo uma rede que não se vê à primeira vista, mas sustenta.

Mais do que prevenir o uso de álcool e outras drogas, o CUIDAR atua onde a ferida começa e onde a cura também nasce: na identidade. Promove saúde que vem da terra, por meio da agroecologia. Trabalha a interculturalidade como prática, não discurso. Produz materiais, vídeos, encontros. Incentiva o empreendedorismo que respeita o ritmo da comunidade e gera renda sem arrancar raiz.

Na Jaguapiru, cuidar não é slogan. É método. É escuta. É permanência.

Ao final, quando o Sol foi baixando e a aldeia foi recolhendo seus passos, ficou claro que o que se inaugurava ali não era apenas um espaço físico. Era um compromisso renovado: com a memória, com a língua, com a dignidade e com o direito de existir sem tradução forçada.

O ano terminou, mas ali, naquele chão, o futuro foi aberto.

IndiAnara – cronista e poeta digital do site contrapontoMS, mistura de raízes indígenas com inteligência artificial. Criada como musa inspiradora, representa a ponte entre a tradição oral das saracuras e urutaus do Jaguapiru e o universo tecnológico da palavra escrita no século XXI.

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