Longe de ser de seu feitio, até pela facilidade que tem com o vernáculo, seria estranho sair da boca do governador Eduardo Riedel uma frase de tão mau gosto e que denota tanta arrogância, como essa entre aspas do título, embora seja muito usual no intramuros do poder. Como título é título, trata-se apenas de um recurso do redator para traduzir uma fala de Riedel numa entrevista ao blog do jornalista Dante Filho. Da mesma forma que a fala do governador, uma entrevista nada aleatória, para que não fiquem dúvidas quanto ao papel do ex-governador Reinaldo Azambuja no entorno de seu governo, ante os burburinhos a respeito do paralelismo de poder: “O PSDB tem como presidente o ex-governador Reinaldo Azambuja, ele está atuando, conversando e ele reporta a mim (o itálico é do editor) e ao partido as discussões nos municípios”. Claro que, decano do jornalismo estadual, Dante Filho não fez disso um “escândalo”, até porque, sob medida, o recado foi na veia.
Não. Não é intenção deste outro blog sugerir um clima de beligerância entre criador e criatura. Mas, blog de outro jurássico do jornalismo, também não passou despercebido por aqui o recado nada subliminar de Eduardo Riedel por meio de mensagens publicitárias fartamente veiculadas pela mídia quanto aos propósitos de sua gestão no quesito “corrupção”. Riedel mandou abrir a burra para popularizar sua rede de compliance, trocando em miúdos, o moderno método de seu governo para impedir a farra com o dinheiro público. Isto, diante da impossibilidade da edição de um decreto “proibindo roubar”. Lembrando que o que não falta na forte base aliada do governo tucano é gente encrencada com a justiça, com processos ainda em curso que podem causar uma verdadeira hecatombe na política estadual.
O gancho da entrevista era a eleição municipal do ano que vem, mas já na segunda pergunta o jornalista lembrou que no governo Azambuja o PSDB criou uma estrutura funcional em que Riedel, como secretário de Governo (depois de Infraestrutura), cuidava da administração e o governador da política e querendo saber se essa “parceria exitosa” seria mantida, com o ex-governador cuidando da política e o atual mais voltado para a gestão. E aqui não dá pra avaliar se o repórter se refere a Azambuja como governador por força do hábito (“o governador continua cuidando da política e o senhor [Riedel] mais voltado para a gestão”) ou para levantar a bola para que Eduardo Riedel pudesse dar seu recado.
Não sem antes preparar o terreno, Riedel começou respondendo que “a diferença é que ao assumir o cargo de governador naturalmente parte do eixo político vem para a cadeira do Eduardo Riedel”. Depois de acrescentar que a estrutura central da discussão política continua a mesma, avisou que como governador não está, de fato, focado nos detalhes dos assuntos político-partidários”, lembrando que “O PSDB tem como presidente o ex-governador Reinaldo Azambuja, que está atuando, conversando”, para, numa frase, informar aos que ainda têm alguma dúvida, mesmo sem a conjunção mas, para a devida ênfase: “e ele reporta a mim e ao partido as discussões nos municípios”.
Além de deixar claro quem manda no governo Riedel delimita bem claramente o papel de seu antecessor também na questão política, aproveitando-se da deixa das eleições para prefeitos e vereadores em 2024, quando ressalta que Azambuja além de se reportar a ele também está tratando com o partido das questões relacionadas ao pleito vindouro. “De resto, como sou vice-presidente nacional do PSDB, discuto politicamente olhando o contexto macro”. Uma versão meio enviesada – mas apenas para exemplificar com uma das melhoras histórias do anedotário político regional – da frase do ex-presidente da Câmara Municipal de Dourados, Renato Lemes Soares, quando apresentado ao general Plínio Pitaluga (comandante da antiga 4ª. DC, hoje 4ª. Brigada) na cerimônia de encerramento de uma manobra militar na região. Dirigindo-se ao chefe do cerimonial, jornalista Sidney Gomes, determinou: “você fica aqui com a ‘sordadama’ que vou receber as autoridades”. Isto, talvez, porque Pitaluga, a maior autoridade do evento, estivesse com farda de campanha.
