Prefeito porque a população de Dourados entendeu que já havia passado a hora de o tão decantado novo passar a comandar os destinos da cidade, o jovem professor e advogado Alan Guedes enfrenta agora um teste de fogo em seu projeto de reeleição: mostrar a que veio, senão como um grande fazedor de obras, alguém com bons propósitos, como sujeito de boa índole que é, que soube zelar pelo bem público. Trocando em miúdos, que pelo menos tenha conseguido estancar o voraz apetite da máfia que havia anos rondava os cofres públicos. Mais difícil ainda, diante de uma perspectiva em que seus prováveis adversários representam tudo o que ele combateu em palanque, ou seja, o arcaico da política e, principalmente, alguns personagens que nesses tempos de tantas frustrações e traumas para o eleitorado andaram se destacando mais no cenário policial do que no político.
Imaginemos por exemplo o cenário de um debate eleitoral no rádio e na TV, o extrato de tudo o que terá rolado no período de campanha, com Alan Guedes frente a frente com o seu antigo tutor político, o deputado Zé Teixeira, com o já longevo e sempre sedento de poder, deputado Geraldo Resende e, por mais inimaginável que pudesse parecer, com o ex-presidente da Câmara, não menos longevo e sempre polêmico Archimedes Lemes Soares, o Ferrinho. Hilário, não estivéssemos aqui tratando do debate de ideias entre interessados em administrar a segunda maior cidade do estado.
Nas eleições passadas Alan Guedes pregou o novo na política, mas os resultados, até aqui, de sua administração são um incentivo ao retorno, ops!, de candidatos tradicionais, que irão contestar a efetividade daquela abordagem. Menos traumático para Alan seria um meio termo que salvasse pelo menos o discurso lá de trás, mesmo não vingando o projeto de reeleição ele passando o bastão para alguém de sua geração, garantindo a continuidade de ideias e projetos que representem a renovação política.
Nomes não faltam nessa promissora geração de políticos, começando pelo de seu vice, Guto Moreira, da deputada Gleice Jane, do professor Tiago Botelho e do deputado bolsonarista Rodolfo Nogueira. Gleice e Botelho, fortes por representar a política de inclusão social do presidente Lula da Silva. Rodolfo exatamente pelo contraponto que faz ao lulopetismo, como o que melhor representa o bolsonarismo e o agronegócio. Amigo pessoal do ex-presidente Bolsonaro, de quem teria o compromisso até de subir em seu palanque em Dourados.
Também deputados, Lia Nogueira e Neno Razuk poderiam até entrar nessa lista não fosse fato de não serem donos de seus mandatos. Lia, eleitoralmente forte, mas “propriedade” do ex-governador Reinaldo Azambuja, obrigando-se a ler na cartilha de quem tem que se reportar ao comandante do processo, o governador Eduardo Riedel, em tese, compromissado com o projeto de reeleição de Alan, de quem recebeu apoio nas últimas eleições. Neno, carta fora do baralho, literalmente, por fazer só o que papai Roberto e mamãe Délia Razuk mandam.
Como intermediários, nesse quesito de novo na política, e com bons currículos, inclusive já aprovados como bons prefeitos, o vice-governador Barbosinha (além de prefeito de Angélica secretário de estado de Justiça e Segurança Pública e grande gestor da Sanesul) e o deputado Renato Câmara (duas vezes prefeito de Ivinhema). E, com pinta de galã, mas já quase dobrando o cabo da boa esperança, o ex-deputado Marçal Filho. Mas, um caso típico de “cavalo paraguaio” – aquele que sempre aparece como favorito -, com a diferença de que nunca vai para a disputa, preferindo negociar sua candidatura sempre por um bom dinheiro, como ele mesmo confessa nos autos do processo da operação Uragano.
No final das contas, a responsabilidade do jovem prefeito Alan Guedes é demonstrar que o “novo” na política pode ser efetivo e benéfico para a população. Independentemente do resultado eleitoral, ele deve contribuir para o surgimento de novas lideranças políticas, proporcionando uma renovação contínua no cenário político local. A democracia se fortalece quando há espaço para novas ideias e projetos, e é nessa direção que Alan Guedes pode deixar seu legado positivo para sua cidade. Sim, depois de João Totó Câmara, prefeito no século passado, ele é o único douradense a ter o privilégio se sentar nessa tão cobiçada cadeira.
