Honrado com um convite para almoçar esta semana com o vice-governador José Carlos Barbosa, o Barbosinha, presenciei uma cena que serve de gancho para este texto. Ao chegar ao restaurante, o pátio lotado e uma senhora tentando manobrar uma SUV para sair do local. A vaga do carro dela seria a única disponível. Sentindo que ela não daria conta, o motorista sugeriu que ele descesse, ali mesmo na calçada. Só que ao invés de se dirigir direto ao refeitório, eis que Barbosinha vai lá, pacientemente, tentar resolver aquele probleminha de barbeiragem. Esterça pra lá, pra cá, mais um pouquinho pra frente, pra trás. O vice-governador do estado já estava quase pedindo para fazer, ele mesmo, a manobra, quando, finalmente, aquela já encabulada motorista conseguiu liberar a vaga.
Estávamos, todos, com um buraco no estômago, provocado pelo atraso na agenda do vice-governador. Um dia depois de receber o general bolsonarista Braga Neto, para tratar do quadro político estadual, ele ainda queria arrancar do repórter as novidades sobre o quadro político da terra de seu Marcelino. Foram-se os tempos em que vice ficava despachando de Dourados, para não fazer sombra ao governador, quando não na própria vice-governadoria, ali mesmo, no Parque dos Poderes, tramando para derrubar o titular. Sobre esta questão, saboreando um purê de batatas com molho vermelho – “nada contra”, referindo-se a cor, claro –, disse que tudo está muito bem alinhadinho entre Eduardo Riedel e ele.
Na sequência, falando do intrincado cenário da sucessão municipal em Dourados, como protagonista que é na costura das alianças políticas que poderão direcionar os rumos da cidade. Com essa habilidade de manobrista Barbosinha tenta forjar consensos e construir pontes entre diferentes correntes partidárias, principalmente no PSDB, o partido do governador Eduardo Riedel e do chefão tucano estadual Reinaldo Azambuja e essa expertise tem se mostrado essencial para desanuviar esse congestionado quadro.
A trajetória política de Barbosinha, repleta de conquistas e desafios superados, dá luz a sua maestria na arte de costurar alianças. Sua história remonta ao século passado, quando ele deixou gravada uma promessa em uma laje de cimento, isto recém-contratado como o primeiro office boy do primeiro prefeito de Angélica, o ex-vereador douradense e totosista Ediberto Celestino de Oliveira. Um vaticínio que se cumpriu, quando ele se tornou o mais jovem dos prefeitos brasileiros. Depois disso, fixando domicílio eleitoral em Dourados, município do qual Angélica havia se desmembrado, aqui se destacando como advogado e professor. O retorno à política era uma questão de tempo. Trilhou um caminho multifacetado, desempenhando papéis cruciais em diferentes esferas governamentais, primeiro na Secretaria estadual de Justiça e Segurança Pública, depois na Sanesul, onde deixou sua marca como um dos melhores gestores da estatal. Mas foi na Assembleia Legislativa, entre cobras criadas, que consolidou essa condição de grande manobrista político, por isso escolhido como companheiro de chapa de Riedel.
A frustrada tentativa de Barbosinha de se eleger também prefeito de Dourados foi só mais um dos já “incompreensíveis” equívocos da dita cacicaiada, mas nem isso diminui sua condição como um dos poucos que sobraram para, efetivamente, recolocar Dourados nos trilhos. Pelo contrário, ele capitalizou os aprendizados e transformou-os em ferramentas para moldar uma abordagem política resiliente e inclusiva. Sua atual posição como Vice-Governador lhe confere uma plataforma sólida para articular alianças e promover convergências.
A situação atual, com uma miríade de candidatos disputando espaço dentro do PSDB, requer uma habilidade extraordinária para costurar acordos que satisfaçam os diversos interesses em jogo. Barbosinha não é apenas um jogador habilidoso nesse tabuleiro, mas também um estrategista atento às nuances do jogo político. Sua falta de pressa revela uma sabedoria tática; ele compreende que construir alianças sólidas requer tempo, paciência e a capacidade de encontrar pontos em comum mesmo nas divergências.
À medida que Dourados, ainda traumatizada com suas últimas administrações, enfrenta escolhas cruciais para 2024, a habilidade do Vice-Governador Barbosinha em costurar alianças emerge como uma âncora de estabilidade e esperança. Sua jornada política repleta de experiências diversificadas, sua determinação em transformar desafios em oportunidades e sua capacidade de entender as nuances das relações políticas tornam aquele primeiro office boy da prefeitura de Angélica um ator inestimável na cena política atual. Um grande manobrista, enfim, para transitar entre o mais tinhoso eleitor do Mato Grosso do Sul, exatamente o de Dourados.
