O governador Eduardo Riedel terá que mostrar muita competência para, com habilidade e paciência, estender o seu conceito de transversalidade administrativa às questões políticas se quiser, de verdade, herdar o trono de Pedro, o Pedrossian, maior dos governadores dos dois Mato Grossos. E seu primeiro grande teste nesse movediço terreno poderá ser exatamente na terra vermelha, a terra de seu Marcelino, por coincidência a terra por onde começou sua carreira, como professor, com seu primeiro registro em carteira assinado pela empresária Cecilia Tânia Grinberg Zauith, mulher de Murilo Zauith, pivô da crise política que abriu o caminho para a sua chegada ao poder.
Do eleitorado douradense já se sabe que é o mais tinhoso do estado (no sentido de teimosia e pertinácia, claro, não no de podridão ‘do dedo’, como disse outro dia o deputado Geraldo Resende), mas nunca antes na história, conforme o bordão de Lula, esteve diante de uma responsabilidade tão grande, qual seja, a de estartar o processo de consolidação da liderança de alguém que nem domicílio eleitoral tem no município. Este o imbróglio em que se meteu Eduardo Riedel, muito mais pelas injunções partidárias do que pela por força do cargo.
E tudo isso porque, como soer acontecer, as eleições municipais não passam de um mero trampolim para a subsequente eleição para o governo do estado, casada com as eleições para a presidência da República e para o Congresso Nacional, em 2026. É que além da sucessão do próprio Riedel, aquela será a eleição em que os eleitores terão a responsabilidade de corrigir um grande equívoco cometido nas eleições de 2018, mandando de volta pra casa os senadores Nelsinho Trad e Soraya Thronicke. Mais, porque um dos cotados para uma dessas vagas é Reinaldo Azambuja, o chefão político tucano que jura querer encerrar a carreira política como senador, com o deputado petista Vander Loubet trabalhando incansavelmente, já há algum tempo, para ficar com a outra cadeira.
Como em Dourados ninguém se habilita para ser governador ou senador a coisa toda gira em torno da sucessão de Alan Guedes. É que, debaixo do maior quieto, o prefeito vem costurando muito bem seu projeto de reeleição, repetindo o que fez para se eleger em 2020, mandando às favas o velho coronelismo e impondo seu jeito novo de fazer política. Aí que entra o também novato Eduardo Riedel. Aos incautos, lembrando que o maior evento eleitoral da campanha passada foi um comício para receber Eduardo Riedel e seus candidatos no Clube Nipônico de Dourados. No mesmo dia em que o então governador Reinaldo Azambuja se reuniu com Alan Guedes e seu secretariado implorando por apoio para seu até ali desacreditado candidato, oferecendo em troca seu apoio à reeleição do prefeito, agora em 2024.
Como parece ser um sujeito predestinado, Riedel anda desfilando e até comendo pastel na feira com o também jovem deputado Beto Pereira, filho do ex-senador Walter Pereira, já tido como futuro prefeito de Campo Grande. Tanto otimismo é reflexo das negociações que, além da eleição de Azambuja para o senado, passam pela indicação dos substitutos dos Conselheiros do Tribunal de Contas afastados e usando tornozeleiras eletrônicas pelo tanto que foram com sede ao pote do órgão encarregado de fiscalizar as contas públicas. Além de Sérgio de Paula, fiel escudeiro de Azambuja, outro futuro “conselheiro” seria o deputado Lídio Lopes, conhecido como o “Janjo” da capital (analogia à poderosa Janja, mulher de Lula), por sua condição de marido da prefeita Adriane Lopes, que se contentaria com um rentável mensalão para desistir do projeto de reeleição.
A expectativa, pois, fica por conta do equilíbrio que terá o tucano Eduardo Riedel ante as dinâmicas internas do partido em Dourados, onde, sonhando com o barracão da Coronel Ponciano, se engalfinham os longevos deputados Zé Teixeira e Geraldo Resende, além da recém-chegada deputada Lia Nogueira. Tanto é o medo de perderem, de novo, para Alan Guedes que andam oferecendo mundos e fundos a Marçal Filho, sem contar a sondagem ao vice-governador Barbosinha para ‘disputar a prefeitura contra Alan Guedes’. Todos, contando com o apoio do coronel Azambuja. Azambuja que, como governador, não conseguiu emplacar seus dois candidatos nas eleições anteriores, o mesmo Geraldo Resende contra Délia Razuk, também o mesmo Barbosinha, contra o mesmo Alan. Como insistir no erro é burrice, com o criador já se dando por satisfeito com paraíso, como é conhecido o Senado da República, bem provável que a criatura comece a escrever uma nova história. A sua própria história.
