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sábado, dezembro 27, 2025

As ingerências que geram desconfiança, mas que podem aliviar o sofrimento da comunidade indígena

Jornalista brasileira residente em Paris lança livro abordando a questão da água nas comunidades indígenas em Dourados

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Em companhia do fotógrafo Roberto Matos, saindo da aldeia Jaguapiru, já atrasados porque tínhamos que enviar pelo Bandeirantes da TAM que saía às 13h00 as últimas fotos de uma série de reportagens que fizéramos durante a semana para a Folha de S. Paulo, eis que nos deparamos com uma índia saindo da trilha de pau-de-bugre, com uma lata d’água na cabeça. Sol a pino, não dando para perceber direito se a água que escorria por aquele rosto já vincado pelo tempo era suor ou o que pingava do pano enrolado na cabeça para amenizar o peso do velho balde. Freio bruscamente o fusquinha do jornal O Progresso e peço para o Bob Matos fotografar a dita-cuja. Muito a contragosto ele desde e bate a foto, avisando que era a última daquela bobina, para eu não inventar mais moda. No dia seguinte, aquela foi a foto principal da capa do Folhão, com a chamada da matéria, por mim assinada, sobre o natimorto projeto Araporã, na Reserva Indígena de Dourados.

Estávamos no limiar da segunda metade da década de 1970. Milênio e século passados. O prefeito José Elias Moreira, naquela sua peculiar ansiedade pela “fazeção” que transformaria sua administração na maior de todas até hoje da terra de seu Marcelino, tentava plantar a primeira sementinha de um grande projeto de hortifruticultura na aldeia Jaguaipiru, para ajudar no sustento das comunidades indígenas. Atirando no que vi e acertando no que não vi, acabei abortando o que parecia ser uma das mais louváveis iniciativas da prefeitura em território indígena. É que a primeira matéria sobre o tema, publicada pela mesma Folha de S. Paulo, causou o maior auê entre indigenistas, antropólogos e defensores da causa indígena. A turma da Unicamp, principalmente, que entrou na parada, acionou os organismos de defesa dos povos originários e forçou a FUNAI mandar parar o projeto.

Agora, no que parece ser o ápice crise de abastecimento de água nas mesmas Aldeias Jaguapiru e Bororo, situação tão grave que sensibilizou não só a classe política – alguns brigando mais por holofotes do que pela causa em si – mas até os pauteiros do Jornal Nacional da poderosa vênus platinada, outra iniciativa pode ser abortada, pelo que muitos dos ditos defensores da causa podem entender como mais uma dessas ingerências nas aldeias. O título da obra não poderia ser mais providencial – Nascentes Vivas para os povos Guarani, Koiowá e Terena da Reserva de Dourados. Trata-se de mais um livro da jornalista glória-douradense Mazé Torquato Chotil. Desta vez, não se limitando às suas já rotineiras noites ou tardes de autógrafos na região, ela vai fazer a doação de um exemplar para cada uma das 68 escolas (23 escolas estaduais e 45 municipais) de Dourados, na próxima terça-feira (14) às 8h00, na Coordenadoria Regional de Educação em Dourados. Em que pese o primor de suas pesquisas, mas pelo fato de morar em Paris há mais de 30 anos, Mazé Torquato bem que poderia abusar da licença poética, dramatizando mais, pelo óbvio da situação, trocando o “Nascentes Vivas” por “Nascentes Mortas”.

Resta torcer para que a “ingerência” literária de Mazé Torquato não seja encarada como a ingerência administrativa do prefeito José Elias Moreira, na implantação de suas hortas para os índios. Da mesma forma que a negativa à tentativa de ingerência do governo do estado tem atrasado a solução definitiva do problema da falta de água. Independente disso, o governador Eduardo Riedel fez sua parte, com a participação decisiva, no caso, de seu vice, Barbosinha, por sua experiência na presidência da Sanesul. Entre as providências sugeridas pelo governo está um projeto que contempla a produção de água com a perfuração novos poços, reservação e distribuição. Projeto encaminhado ao governo federal e já  cadastrado no PAC do governo Lula. Outra sugestão do vice-governador Barbosinha é a construção de duas vilas Indígenas, uma na aldeia Jaguapiru outra na Bororo, com infraestrutura agrupada. Segundo Barbosinha, não para a cobrança de água, mas para o melhor controle da Sanesul. Lembrando que tudo isso passa por uma discussão com a comunidade indígena, onde sempre há resistência a esse tipo de “ingerência”.

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