Tenho seguido a professora Gicelma Chacarosqui no Face e me encantado com seus poemas. Um dos últimos que li – Nas invernadas da vida – traz versos que evocam uma imagem poética de como o tempo desenrola os fios invisíveis dos afetos, que são suspensos como pipas no céu da vida. Essa é uma metáfora interessante que descreve como nossas conexões e relacionamentos se desenrolam ao longo do tempo, como se fossem linhas que conectam as pessoas e experiências em nossas vidas. A imagem das pipas sugere uma sensação de leveza, liberdade e efemeridade, algo que pode ser facilmente levado pelo vento, mas que também proporciona momentos de beleza e alegria.
O primeiro verso: “Nas invernadas da vida/O tempo decarretilha” descreve o tempo como um carretel que desenrola os fios invisíveis dos afetos. Tal criação poética sugere que o tempo está constantemente desvendando nossas conexões e relacionamentos, trazendo à tona as emoções e experiências que moldam nossas vidas.
A imagem das pipas suspensas no céu configura nossos afetos e conexões. Elas estão “presas nos intervalos” da liberdade, sugerindo que, embora possamos sentir a leveza e a alegria dessas conexões, também estamos limitados por convenções sociais e expectativas.
Em “Somos prisioneiros dos deslimites”: a expressão destaca como, paradoxalmente, a liberdade pode nos prender. O verso reflete a ideia de que, embora possamos buscar a liberdade, muitas vezes somos restritos por normas e limites sociais.
Quanto à expressão ‘Liberdade através da poesia, a última linha’, “A poesia é nossa alforria”, sugere que a poesia é uma forma de escapar desses limites e encontrar liberdade. Ela oferece um meio de expressão pessoal e uma maneira de transcender as restrições do mundo real.
No geral, o poema de Gicelma Chacarosqui explora a complexidade das relações humanas, a passagem do tempo e a busca da liberdade, destacando a importância da poesia como uma forma de libertação e expressão. A linguagem poética e as metáforas utilizadas neste poema criam uma atmosfera evocativa que convida o leitor a refletir sobre a natureza efêmera e significativa da vida e das conexões humanas.
Ler poesia é uma ação vital para nosso espírito. A poesia, nascida da fusão de palavras e emoções, desempenha um papel transcendental tanto na vida do poeta como na do leitor.
Para o poeta, ela é o veículo que permite traduzir a complexidade de seus sentimentos mais profundos em uma linguagem que dança entre a razão e a paixão. Através da poesia, o poeta se torna um alquimista das palavras, transformando a experiência humana em versos que ecoam na alma do leitor. Por sua vez, o leitor encontra na poesia uma janela para o mundo interior do poeta, uma oportunidade de sentir a universalidade das emoções humanas e de se conectar com a mente e o coração de outro ser humano.
Assim, a poesia se revela como uma ponte entre almas, onde o poeta e o leitor se entrelaçam em um diálogo silencioso, enriquecendo suas próprias jornadas e visões de mundo.
Ana Maria Bernardelli – Professora, poeta e ensaísta
