A conjuminância de alguns fatos deste carnaval pode fazer com que, uma vez confirmada, a profecia feita pela cantora Baby do Brasil em cima de um Trio Elétrico puxado por Ivete Sangalo na Bahia provoque uma revolução no país, ou o tão falado e famigerado golpe, como sonham, ainda – e ameaçam! – os bolsonaristas. Isto refletiria em todo o processo administrativo e político do país, tendo como alvo mais próximo as eleições municipais. Com isso, em vez de eleições, interventores. Por exemplo, em Dourados, o gordinho do Bolsonaro, deputado federal Rodolfo Nogueira, subindo a rampa da prefeitura com uma turba de ruralistas para tomar as chaves da prefeitura das mãos do prefeito Alan Guedes.
É que uma vez reconduzido ao cargo pela força do “povo”, não daria tempo para Bolsonaro, providencialmente, iniciar o seu período de ditatura pensando em eleições. Ufanismo dos bolsonaristas, para desgosto da outra banda, como se convencionou chamar nos últimos tempos, a dos esquerdistas. Frustração de quem prefere a democracia e que aguardava com tanta expectativa o tira-teima entre Alan Guedes e Barbosinha (não se iludam, será ele, o vice-governador, o candidato do establishment) ou, a depender do fracasso da profecia de Baby do Brasil, depois de escancarado o escândalo nacional da tentativa de golpe, uma polarização com uma chapa forte do PT, sem contar uma zebra chamada Ferrinho.
Como Baby do Brasil é evangélica, pela “lógica”, bolsonarista, pode ser que o apocalipse a que ela se referiu na Bahia seja a consolidação das esquerdas no poder no Brasil. Pela data prevista (daqui uns dez anos), depois de uma hipotética reeleição de Lula ou de uma mais hipotética ainda ascensão Guilherme Boulos, tirante o atual presidente o mais notório nome nesse espectro. No entanto, como a “profecia” coincidiu com a convocação – feita pelas redes sociais – de Bolsonaro para um auto desagravo na Avenida Paulista, neste fim de mês, pelas acusações de ideólogo do golpe, pode ser que o apocalipse seja decorrência, mesmo, do retorno de uma ditadura militar.
Ainda no ritmo do carnaval, num país em que tudo acaba em samba, mas em tempos também dos tão enigmáticos algoritmos, não tem como não parar para meditar sobre as consequências da mensagem de uma marchinha do “Cordão do Boitatá” num baile de carnaval que reuniu milhares de pessoas na praça XV, neste domingo, no centro do Rio de Janeiro:
“Polícia federal vai bater no seu portão
o gado chora mimimi feito gatinho
cantou de galo, do xadrez vira patinho
tem capitão, tem general
cidadão de bem/até pastor pentecostal
tem 01, tem 02, tem 03
quem errou o golpe vai pagar lá no xadrez
toc toc toc, não é pizza nem iFood
é a sua algema pra jogar bola de gude
toc toc toc, abre a porta é, federal
vai direto pra papuda pra brincar o carnaval”
Neste caso, recorrendo à básica cartilha do bom jornalismo (Quem? Quando? Como? Onde e Por que?) e, “futuristicamente” falando, como dizia o lendário prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), da fictícia Sucupira, da novela “O Bem Amado” (1973), falta responder apenas uma pergunta desse imbróglio: Quando? Sim porque as demais já estão respondidas na marchinha do “Boitatá”.
Há menos que, invocados seus poderes, Xandão (Alexandre de Moraes, ministro do STF e presidente do TSE), o tão temido “algoz” bolsonarista, passe por cima de todos os crimes até aqui elencados contra Bolsonaro para condenar o ex-presidente pelo mais prosaico deles – o de heresia, pelo tanto que invocou o nome de Deus em vão nas repetidas, desnecessárias e cansativas citações do Evangelho de João antes, durante e depois de seu conturbado governo: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Enfim, chegou a hora da verdade. “Doela a quem doela”, como dizia Collor de Melo, o presidente lá atrás cassado e só agora, finalmente, contando as horas para conhecer, por dentro, a tão temida Papuda.