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sábado, novembro 23, 2024

Valdemar corta salário de Braga Netto e de outro ex-assessor de Bolsonaro e expõe tensão com ala de ‘radicais’ do PL

Na sede do partido, caciques mantêm protocolo para evitar encontros e há uma orientação para que as imagens de segurança sejam armazenadas

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O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, cortou os salários que o ex-ministro Walter Braga Netto e o ex-assessor presidencial Marcelo Câmara recebiam do partido. Os valores giravam em torno de R$ 30 mil para Braga Netto e R$ 20 mil para Câmara. Internamente, a justificativa apresentada foi que o corte foi necessário, pois nenhum dos dois está trabalhando e seguem sem contato com a cúpula do partido, ambos por impedimento judicial. Entretanto, a medida gerou indisposição de Valdemar com a ala mais próxima do ex-presidente Jair Bolsonaro, considerada mais “radical”.

Braga Netto foi impedido pelo ministro Alexandre de Moraes de ter contato com outros investigados pela tentativa de golpe de Estado, o que, na prática, o impede de ir à sede do PL e de fazer a função de articulação para as eleições municipais que lhe cabia. A mesa de trabalho dele, inclusive, ficava localizada na sala ao lado do local onde Bolsonaro despacha. Câmara, por sua vez, está preso.

De acordo com o detalhamento de despesas apresentado pelo PL ao Tribunal Superior Eleitoral, em 2023, Braga Netto embolsou um total R$ 386.183,55. Os valores contemplam desde salários pagos por “serviços técnicos” até aluguel de uma residência em Brasília. O montante supera o valor oficial apresentado pelo partido ao próprio Bolsonaro, que teria ganho R$ 261.247,46.

Na interpretação de pessoas próximas a Bolsonaro, Valdemar tenta “se blindar” das investigações da Polícia Federal sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023 ao mostrar independência das suas ações. Nesta quinta, por exemplo, ao ser intimado pela Polícia Federal a depôr, o presidente do partido respondeu aos questionamentos por cerca de três horas, enquanto Bolsonaro se manteve em silêncio.

O ex-presidente já fez chegar a Valdemar um pedido que a medida de suspensão de salários seja temporária, ou seja: esteja vigente enquanto Braga Netto estiver impedido de manter contatos com a cúpula do partido e que o general da reserva seja reintegrado à folha de pagamento do PL imediatamente, caso a decisão judicial caia.

Em paralelo, na sede do partido, Valdemar e Bolsonaro mantêm um protocolo para evitar encontros ou qualquer espécie de contato. Também impedidos por ordem judicial, os dois caciques do partido têm recorrido a interlocutores para evitar que estejam na sede do PL ao mesmo tempo.

De acordo com deputados que têm ido ao gabinete de Valdemar, há uma orientação para que as imagens de segurança do partido sejam armazenadas, para o caso de serem requisitadas pela PF por qualquer suspeita de encontro no local. Em mais de uma ocasião em que Bolsonaro precisou ir ao partido, Valdemar se retirou com antecedência.

Posturas diferentes

De acordo com a PF, há “dados que comprovam” que Bolsonaro “analisou e alterou uma minuta de decreto que, tudo indica, embasaria a consumação do golpe de Estado em andamento”. Os investigadores também tiveram acesso a um vídeo de reunião ministerial, em julho de 2022, conduzida pelo então presidente, no qual o sistema eleitoral foi atacado com vistas a manter Bolsonaro no poder.

O depoimento dele durou cerca de 15 minutos, em Brasília. Em nota, a defesa disse que o ex-presidente não abre mão de prestar esclarecimentos, o que fará assim que “seja garantido o acesso” solicitado. Os advogados do ex-mandatário pedem o conteúdo completo da delação premiada do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, e acesso ao material de celulares apreendidos dos outros investigados.

Valdemar Costa Neto, por sua vez, decidiu falar em seu depoimento, de acordo com a colunista Bela Megale, do jornal O Globo. Segundo investigadores, o presidente do PL indicou que adotaria a mesma estratégia de Bolsonaro, mas depois decidiu colaborar. Aliados de Valdemar, no entanto, relataram que ele chegou à PF disposto a depor, até para diferenciar sua postura da dos demais alvos.

Em nota, o advogado Marcelo Bessa disse que o presidente do PL “respondeu todas as perguntas que lhe foram feitas” e que sua defesa não comentaria as investigações.

Gabriela Saboia/O Globo

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