Primeiro, depois de um discurso que parecia adrede preparado para pôr fim às especulações quanto a sua postura em relação ao quadro sucessório em Dourados – “não sou gato nem caco de vidro para ficar em cima do muro” – o governador tucano Eduardo Riedel colocou Barbosinha debaixo do braço e foi até a capital paulista, para lá “sugerir” a seu vice que assinasse ficha de filiação no PSD do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Agora, o mesmo Riedel, ainda na companhia de seu inseparável vice-governador, leva seu secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento, Jaime Verruck, para assinar ficha no mesmo PSD, aqui no MS, do senador Nelsinho Trad. O pano de fundo dessas duas mexidas, a sucessão municipal. Tanto em Dourados como em Campo Grande, onde o PSDB já tem pré-candidatos a prefeito. Aqui o radialista Marçal Filho, que não consegue unir o partido nem os aliados em torno de seu nome; em Campo Grande, o deputado Beto Pereira, que não decola nas pesquisas. Pelo tanto que foi rápido no gatilho, usando Barbosinha como escudo, pode ser que Riedel tenha usado a metáfora do gato e do caco de vidro para avisar que vai, sim, descer do muro, mas só porque ele por cair. Ou seja, não fosse a lenda tucana, pular do barco antes que afunde.
Baque I – A mexida no tabuleiro partidário pode até não ter nada a ver com a corrida sucessória nos municípios, onde Reinaldo Azambuja, antecessor de Riedel, reina absoluto, coadjuvado pelo sempre pragmático “operador” Sérgio de Paula. Mas, lembrando que tanto Marçal Filho, em Dourados, como Beto Pereira, em Campo Grande, são nomes do bolso do colete de Azambuja, apenas. Disciplinado, Riedel pode estar só querendo ser prudente, tendo à mão alternativas em caso de desabamento do muro antes das convenções partidárias. Principalmente agora, depois que a Justiça manteve o bloqueio de quase R$ 300 milhões de Azambuja, pelo suposto recebimento de propinas da JBS, em processo da Operação Vostok, lá de 2018.
Baque II – Outra mexida na tabuleiro da sucessão em Campo Grande, embora já esperada, foi o anúncio da possível desistência de André Puccinelli, feito esta semana, alegando falta de dinheiro do MDB para a campanha. Coincidência, também, na mesma semana em que seu braço-direito na prefeitura e no governo, Edson Girotto, foi condenado a devolver cerca de R$ 30 milhões, coisas de outra operação famosa, a lama-asfáltica. Mas, nem tudo está perdido, dando tudo certo com Azambuja e com os tucanos em 2014, Puccinelli tem garantida uma vaga como candidato a deputado federal, em 2026.
Baque III – Sem grandes reflexos nas eleições municipais deste ano, pelo tanto que se apequenou com as lambanças como senador petista, o agora “trabalhista” do PRD, Delcídio do Amaral, também levou uma canetada daquelas esta semana. A negativa do TJMS em mandar um processo em que ele é acusado de receber R$ 11 milhões de propina, também da JBS, para a Justiça Eleitoral, é mais uma derrota de Amaral, que insiste, por razões óbvias, em ser julgado por uma Vara Criminal de Campo Grande.
Uma boa ideia – O casal Délia e Roberto Razuk aproveitou as comemorações de 51 anos de casamento para sinalizar o futuro político da família. Começou com a filiação do filho Rafael Razuk, no PSDB, para tentar ocupar a cadeira que foi da mãe, antes que ela se tornasse prefeita por duas vezes. Na padaria do fuxico, já corre a informação de que o projeto da ex-prefeita é se candidatar a deputada federal em 2026, na pior das hipóteses, para garantir a terceira reeleição do outro filho, o deputado estadual Neno Razuk. Isso, se ele conseguir salvar o segundo mandato, depois de denunciado, inclusive com pedido de prisão contra ele, como o novo capo do jogo do bicho em Campo Grande.
Sal do Himalaia – De origem turca, região do Oriente Médio onde a lenda dita que quando duas ou mais pessoas comem sal juntas acabam formando um vínculo, o anfitrião Roberto Razuk fez questão de seguir o costume de seus ancestrais, convidando para o regabofe de suas bodas de bronze com dona Délia o que seria hoje seu pequeno exército eleitoral. Entre os “voluntários”, entrincheirados nas várias frentes de batalha da terra de Antônio João, a vereadora Liandra Brambilla, que não passou recebido pela pré-candidatura de Rafael Razuk, que pode ficar com a cadeira dela no Jaguaribe; Andreia Vieira, em cuja lapela há de brilhar para sempre, mesmo que discretamente, o boton alaranjado de Murilo Zauith; o ex-presidente da Câmara, Joaquim Soares, secretário de Alan Guedes na cota do PT de Vander Loubet, e o advogado Duhan Tramarin Sgaravatti, fiel escudeiro de Sérgio Henrique Araújo Martins Pereira, o homem forte da administração Délia.
Isto é Tetila – Cotado como candidato a vice-prefeito de seu calouro na Universidade e na política, o também professor Tiago Botelho, mas nem aí para o frenesi nas redes sociais pelo rostinho colado de Botelho com Lula, em Campo Grande, o ex-prefeito Laerte Tetila preferiu uma boa prosa com outro ídolo das esquerdas, o padre Júlio Lancelotti, em São Paulo. O encontro foi na capela São Judas Tadeu, na Mooca, onde Tetila acompanhou uma missa celebrada pelo sacerdote que no início do ano foi vítima de infamantes denúncias de abuso sexual. Lancelotti, que tem uma vida pautada pela atuação junto a menores infratores, detentos em liberdade assistida, pacientes com HIV/Aids e populações de baixa renda e em situação de rua. O ex-prefeito disse que a visita foi de motivação pessoal, pelo tanto que admira o trabalho do pároco da paróquia de São Miguel de Arcanjo.