O catecismo do bom jornalismo ensina que a expressão “em off” se refere a informações fornecidas por uma fonte que não deseja ser identificada ou citada diretamente na reportagem. Esse tipo de informação é dada de maneira confidencial, sendo utilizada para obter contexto e verificar fatos ou buscar leads adicionais. A prática é comum em situações onde a fonte pode enfrentar repercussões negativas por divulgar determinadas informações ou quando deseja manter o anonimato por outras razões, o que exige um alto grau de ética e responsabilidade do jornalista, principalmente nesses tempos de extraordinária e espantosa viralização da fake News.
Além disso, indiferente à toda a prosopopeia da inteligência artificial, nos meus cinquenta e quatro anos de lida jornalística aprendi que quando alguém pede para ser em “em off”, ainda mais quando se trata de um político, é porque quer ver divulgado tudo o que falou, apenas e tão somente repetindo Pilatos, ou seja, lavando as mãos.
Como a foto que ilustra este texto entrega a fonte, não significa que esteja me limitando ao que o prefeito pediu para ficar “em off”. Tínhamos muito o que conversar sobre sua sucessão e nem tudo é segredo. Mas só mesmo num bate-papo, assim, descontraído, para arrancar informações tão preciosas e que podem ser tão decisivas nesta antevéspera das convenções que vão oficializar as candidaturas das eleições de outubro próximo.
Tudo o que o prefeito Alan Guedes gostaria falar nesta entrevista pra lá de informal, mas que não pôde – ainda –, acabou escapando por sua saliva. Além do que disse “em off”, o que está subentendido de forma sub-reptícia. Até algumas fotos, mostradas num vapt-vupt menor que o de Chico Anísio, na Escolinha do professor Raimundo, por enquanto “impublicáveis” e que valem não por mil, mas por milhões de palavras. Tudo, agora corroborado pelos mais recentes desdobramentos do processo eleitoral, como o lançamento, nesta segunda-feira, da candidatura da mulher do deputado Rodolfo Nogueira como candidata à prefeitura.
Ilustre desconhecida, advogada, pianista e cantora gospel, Gianne Nogueira até aqui era tida como provável vice do próprio Alan. O lançamento de sua pré-candidatura foi precedido de uma enxurrada de boatos no melhor estilo das fake News bolsonaristas, mas que dão bem a dimensão da impressionante guinada da política do campo ideológico para o mundo dos negócios altamente rentáveis. E as razões que o marido tinha para negociar sua condição como companheira de chapa de Alan Guedes podem ser as próprias razões que Marçal Filho precisava para justificar mais uma desistência. Responsável por inflacionar esse mercado lá nos tempos uragânicos, o radialista pode agora ser vítima da própria ganância, pois terá que pagar com a mesma moeda, literalmente, tudo o que cobrou por seu passe em eleições anteriores.
Além disso, de concreto e publicável, até agora, enquanto os tucanos se debatem em busca de um cada vez mais distante consenso em torno do nome de Marçal Filho, uma informação para a qual não se deu muito crédito, mas que chegou a ser veiculada em alguns veículos de forma bastante discreta – a de que o radialista Sidney Bronka estaria muito bem cotado como pré-candidato a vice-prefeito de Alan Guedes. Bronka, braço-direito de Marçal Filho na emissora de propriedade do pré-candidato tucano, nome que usei para provocar o prefeito em minha estratégia de arrancar um bom gancho para este texto:
— O único amigo que conheço do Marçal é o Bronka…
Ante a virulência de minha colocação e entendendo o que eu queria perguntar, o prefeito empurrou a xícara de café para o centro da mesa, deu uma ajeitada no penteado e estufou o peito para uma afirmação que me bastou, para encerrar a conversa. Alan Guedes foi peremptório:
— “Eu também sou amigo do Marçal!”.
E acrescentando, em tom enigmático:
— “Amigo e confidente…”.
Aos incautos, lembrando que Marçal Filho foi vereador com Alan Guedes. Aliás, “emprestando” apoio decisivo para que o amigo se elegesse presidente da Câmara, o trampolim para a prefeitura, quando o radialista foi para o palanque adversário, de Barbosinha, mas com uma atuação blasé. Esquecendo-se de que o mundo dá voltas, Marçal Filho só não esperava que fosse precisar, quatro anos depois, do apoio do mesmo Barbosinha, agora do alto de sua condição vice-governador, para tentar se viabilizar.
Quando o porta-voz Ginez César apontou para o relógio, sinalizando que meu tempo havia acabado, Alan Guedes ainda aproveitou para deixar outro enigma no ar, para respaldar tudo o que, me conhecendo como conhece, tinha certeza de que iria escrever:
— “Anota aí uma data – 30 de junho”.
Antes que agradecesse o que entendi como o anúncio do próximo cafezinho, já que 30 de junho é meu aniversário, ele arrematou, com uma frase muito usada para fustigar adversários quando se aproxima a largada da corrida eleitoral:
— “É a partir desse dia que vamos ver quem tem garrafa vazia para vender; aí começa, para mim, a campanha eleitoral”.
Além da coincidência do meu aniversário, 30 de junho é o último dia permitido pela legislação eleitoral para que Marçal Filho continue em seu fantástico mundo de Bob. A partir daí fica valendo o princípio da isonomia, ou seja, direitos iguais, em todas mídias, para todos os candidatos.