O ministro do Trabalho do governo Collor de Melo, Antônio Rogério Magri, passou à história muito mais por duas frases antológicas do que, propriamente, por seus feitos à frente da pasta que é tão cara ao velho PTB, o partido do finado Getúlio Vargas, de Jango Goulart e de Leonel Brizola, os três ícones do trabalhismo brasileiro: “O salário dos trabalhadores é imexível”, bravateou Magri à época. Depois, pego em flagrante com sua cachorra de estimação sendo levada ao veterinário no carro de seu ministério, sentenciou: “A cachorra é um ser humano como qualquer outro, e eu não hesitei”.
Ontem, foi a vez do CEO da UCP (Universidade Central do Paraguai), Carlos Bernardo, invocar a sabedoria do ministro “colorido”, ao chegar à padaria que é o centro nervoso da política douradense com a cachorrinha Lami, por ele adotada e nomeada mascote da força-tarefa que comandou para ajudar as vítimas da catástrofe gaúcha. Respondendo a um habitué do local sobre pedigree de Lami, foi curto e grosso: “Não sei a raça, só sei que ela é gente boa demais”.
Bernardo contou que resgatou a cachorrinha no bairro Lami, no extremo sul da capital gaúcha, daí o nome, por ele sugerido para homenagear um dos locais mais castigados pelas enchentes e também, claro, “ante mutismo do bichinho”, apenas mais um entre os milhares de pets sobreviventes em meio aos escombros da tragédia. “Lami Bernardo”, acrescentou de forma carinhosa, Izabella Morinigo, a esposa do empresário fronteiriço.
E assim, no primeiro sábado de frio de lascar, ainda em pleno outono, Lami roubou a cena na calçada da padaria onde se reúne aleatória e diariamente a nata da política douradense. O ex-vice-governador Murilo Zauith, sempre a presença mais esperada aos sábados, no local, parece que previu a presença de Lami e do concorrente Carlos Bernardo, deixando de bater ponto exatamente neste sábado, o que foi justificado por sua ida na noite anterior ao evento de lançamento da candidatura de Rose Modesto à prefeitura de Campo Grande.
Independente dos motivos que tem para andar todo orgulhoso e esfuziante pra lá e pra cá exibindo Lami como um troféu, Carlos Bernardo entende ser esta a forma de agradecer a Deus pela oportunidade que teve de comandar a força-tarefa binacional de sua Universidade em socorro aos desabrigados das enchentes no Sul do país. Mas, como não tem nada bobo, sua visita a um local também tão emblemático, com perdão pelo trocadilho, pode ser vista pela ótica da semiótica. Isto, diante de suas pretensões na política estadual, o que ele não faz segredo.
Para não ser repetitivo, principalmente aos que acham que estou misturando alhos com bugalhos, recomendo a leitura, ou releitura, do texto aqui mesmo publicado: “Carlos Bernardo ‘reencarna’ Artuzi com força-tarefa para ajudar na catástrofe gaúcha”. Ao contrário do ministro do Trabalho de Collor de Melo, o CEO da UCP, que mora também em Dourados, pode estar entrando para a história, não por garantir que a cachorrinha Lami “é muito gente boa”, mas por seu espírito de político humanista e pela determinação em fazer acontecer.